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Artigo de Opinião

Psiquiatra

3/09/2024 08:00

De geração em geração, a humanidade vai evoluindo. Temos visto grandes mudanças nas últimas décadas, quase com dificuldade de compreender tanta mudança. A dificuldade é real e a adaptação humana está a ser testada ao limite. Devido a um simples facto, a sociedade estava preparada para evoluir lentamente ao longo dos séculos e desde a revolução industrial, a evolução social foi cada vez mais rápida. Neste momento, claramente não temos capacidade para lidar com a evolução da tecnologia. São tantos os estudos e relatos dos efeitos negativos da tecnologia, que vão desde a diminuição da inteligência das novas gerações, depressão, isolamento, exaustão e mesmo até a induzir o fim da vida. A alteração social provocada pela tecnologia é significativa e os algoritmos que nos alimentam a nossa adição tornaram-se maestros das nossas vidas. Quem mandar nos algoritmos, manda no pensamento e no comportamento humano.

Assustador? Talvez. O pensamento humano está organizado para pensarmos em gerações. De avós para pais. De pais para filhos. O que recebemos, o que fazemos, o que deixamos. Orientávamos a sociedade em três gerações.

Nestes dias, surgiu uma notícia no Público (“Família foge de casa para evitar filho”), sobre uns pais adotivos que se viram forçados a ter de abandonar o seu filho ao sistema de saúde e de proteção de menores. Contam que o rapaz para além de um défice cognitivo, também teria uma perturbação anti-social da personalidade e outros problemas de saúde mental. Apresentou 80% de incapacidade, mas não encontram soluções para ele. Uma leitura que recomendo a todas as pessoas, porque estes pais não estão sozinhos. O problema é antigo e sem solução para breve. A sociedade assume-se como protetora, o estado providencia um conjunto de cuidados e constrói-se a ideia que todos os problemas têm solução no estado social. A ruptura do sistema surge com os problemas que não têm resposta. Casos como o deste rapaz são muitos e são o calcanhar de Aquiles da psiquiatria moderna, comunitária e da sociedade em geral. Não temos respostas para os casos graves, em que a justiça e a saúde se intersectam e esperamos que os crimes graves aconteçam.

Nas últimas décadas houve modificação das leis relacionadas com a psiquiatria, para aumentar a autonomia e capacidade de decisão das pessoas, defendendo aquilo que são direitos humanos fundamentais. A grande missão é fechar os grandes internamentos e aumentar as respostas na comunidade, de tratamento, de habitação e trabalho. Dar dignidade a quem sofre com doenças muito incapacitantes. O problema surge com a falta de investimento. Se é compreensível que se as pessoas contribuírem para a sociedade têm um custo menor do que se estiverem fechadas num internamento, já não é tão claro para os políticos, que seja importante criar as condições para o conseguirmos fazer. Criaram as leis da autonomia, mas não criaram as condições para tratarmos as doenças graves, ou acautelarmos soluções para os casos muito graves. Assim, acabam doentes mentais a viver na rua, pura a simplesmente pela sua doença mental não tratada convenientemente. E este problema é bastante antigo, mas não dá votos.... Fazemos leis para inglês ver, mas não criamos as soluções para português viver.

Pais e filhos sofrem com doenças mentais, pobres, políticos e ricos. Toda a sociedade está susceptível à doença mental. Mas numa sociedade de aparências, é preferível criar grandes muros para a esconder, do que assumir e construir casas e pontes para as soluções.

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