Mas também habituação, vício, que a Organização Mundial de Saúde classifica como doença psíquica e emocional
As mais comuns serão a dependência da droga, a do álcool, a de fármacos, a do jogo…
Sem intenção de entrar nas motivações, origens ou características das dependências ou dos vícios, traz-me aqui o propósito de abordar outra dependência, cada vez mais comum, quer por necessidade própria, quer por interesses indisfarçáveis de sistemas e regimes.
Pretendo abordar a situação amplamente avaliada, objeto dos mais díspares comentários, das mais diferentes versões, conforme o lado em que se esteja.
A SUBSÍDIO-DEPENDÊNCIA
Que a pandemia ampliou.
Infelizmente, há situações lamentáveis de pobreza envergonhada, onde as vítimas escondem ou disfarçam a condição, com receio do aviltamento, ou de julgamentos sem conhecimento real das razões.
Há vítimas de acontecimentos inesperados, independentes da sua vontade ou ação, que de repente as colocam em desespero, sem encontrar caminhos ou saídas por onde prosseguir.
Há doenças que surgem sem aviso e que nos deixam a braços com a revolta, a incompreensão.
Há entradas bruscas na solidão que nos deixam envoltos em noites de vigília sem fim…
Há situações, porém, em que a subsidiodependência passou a ser modo de vida que até se procura, utilizando as normas que lhe dão acesso e deslizam depois pelo mundo escorregadio dos «coitadinhos», onde quase tudo lhes é proporcionado sem custos, com acessos a fundos sem esforço.
Os sistemas de governação preocupam-se em disponibilizar meios para as emergências, para as dificuldades, para as fases difíceis que a qualquer um pode calhar.
Mas há sistemas de governação que «usam» a subsidiodependência para a subordinação, para tornar submissos os que lhe acedem, nada fazendo para que saiam das situações em que se encontram, dando-lhes facilidades de usufruir de meios, sem contrapartidas que possam aliviar uma comunidade que se esforça e quotiza no cumprimento de regras a que outros escapam com arte e conivência.
SUBSÍDIO VERSUS TRABALHO
Tais subsidiodependentes funcionam como frente de apoio a sistemas de governação sem escrúpulos, populistas, que nada fazem para proporcionar a dignidade duma ocupação condigna, capaz de crescer, de evoluir.
Acompanhemos as palavras dum homem referência, uma voz clarividente e oportuna, num mundo em busca de caminhos novos.
Oiçamos Francisco, na Carta Encíclica Fratelli Tutti:
«Outra expressão degenerada de uma autoridade popular é a busca do interesse imediato. Responde-se a exigências populares com o fim de ter garantidos os votos ou o apoio do povo, mas sem avançar numa tarefa árdua e constante que proporcione às pessoas os recursos para o seu desenvolvimento, de modo que possam sustentar a vida com o seu esforço e criatividade…Os planos de assistência, que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como respostas provisórias.
A grande questão é o trabalho. Ser verdadeiramente popular - porque promove o bem do povo - é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, as suas capacidades, a suas iniciativas, as suas forças.
Esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna.
… O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho.
…Numa sociedade realmente desenvolvida, o trabalho é um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimento do mundo e, finalmente, viver como povo.»