Li, algures, não sei se de Fernando Pessoa, que a verdadeira felicidade é não precisar de estar alegre. Penso nisto tantas vezes, em contextos tão diferentes. Penso nisto, agora, com o verão à porta e esta vontade de rir às gargalhadas, apenas porque sim. Penso nisto nos momentos em que me esvazio de desimportâncias e me deito ao mar, na solidão de sermos só nós, eu e o mar. Penso nisto sempre que um lugar me faz chorar de beleza, que um poema me faz calar, que uma música me transporta para um qualquer lugar ao abrigo do mal. Penso nisto neste agora em que a humanidade inteira queria pensar em outra coisa que não doença, ou guerra, ou medo do futuro.
E vou-me segurando à teoria de que a felicidade é, afinal, silenciosa. Que é um caminho de dentro, uma busca de dentro, uma compreensão de dentro. Que as pessoas que mais riem talvez não sejam as mais felizes. Que, apesar da multiplicação de tantas ocasiões de prazer, estamos cada vez mais sós, cada vez mais tristes, sem um sentido para cada dia, para cada noite, para cada gargalhada, para cada choro. Que a nossa cultura vive em desencontro com a felicidade que não mora - e isso eu já aprendi - na alegria instantânea, etílica, volátil.
Penso (e escrevo, que é a minha forma de pensar) que o verão é o tempo certo para definir as linhas que nos vão segurar no inverno. O sol (e o sal) e o tempo (sem pressas) têm o condão de fortalecer a sensibilidade. O verão é o tempo da poesia, da verdadeira, da que é capaz de atribuir sentidos aos fragmentos de vida que contribuem para a construção da felicidade, da que vive do encontro de cada um consigo próprio e de si com os outros, com Deus ou com o que for preciso para ficar completo. Há de ser isso a felicidade: a completude.
Às portas do verão (e das férias e das festas), apetece-me mapear o (meu) futuro. E não, não preciso de noites de farra, nem de provar a minha alegria, nem de. Preciso apenas de aprender a ser feliz.