Muito antes do ano letivo terminar já anteviram a inscrição em ATL’s, por forma a garantir que as crianças ficam em segurança, comem e fazem um sem número de atividades. Existem mesmo aquelas que saltam de ATL em ATL, por forma a suprir as necessidades da impossibilidade dos pais estarem com eles em permanência.
Escrevo na ótica dessas tantas crianças. Nada contra os ATL’s, que nos últimos anos têm diversificado as atividades e ido de encontro à faixa etária dos mais pequenos. Porém, as atividades organizadas são habitualmente propostas pelas instituições e escolhidas pelos pais. Os estudos provam que quando as crianças escolhem o que fazer, e os pais respeitam essa escolha, as crianças não se cansam tanto e usufruem em pleno dessas mesmas atividades. Quando as atividades nem sempre correspondem ao que a criança deseja, acaba por ser frequente a desistência, o "cansaço" e até mesmo o manifestarem desinteresse e aborrecimento.
Brincar é a única forma que a criança tem de aprender quando é pequena. Muitas são as vezes em que os miúdos reforçam que querem brincar mais um pouco e os pedidos para que os pais brinquem com eles. É essencial que durante as férias as crianças tenham períodos com os pais, de partilha de afetos, de tempo, de tarefas e de brincadeiras.
Maria José Araújo, professora e investigadora nas áreas do tempo livre e do lazer diz que os pais anseiam muito que os filhos, desde cedo, sejam responsáveis, mas não desenvolvem a sua responsabilidade e autonomia. Porque isso pressupõe que brinquem.
Durante o ano letivo o tempo é quase todo contado e sobra pouco para as atividades entre pais e filhos, mas com organização, é possível maximizar o tempo livre para leituras partilhadas, conversas em família, sem tecnologias ligadas, sem ecrãs, com poucos brinquedos acessíveis de cada vez. As crianças desorganizam-se com um sem número de brinquedos à sua disposição, nem conseguem decidir com o que brincar.
As férias são uma oportunidade para esses momentos de partilha. Mesmo que inscrevam os vossos filhos em ATL’s, reservem sempre um momento do dia para estarem com eles de forma livre, mesmo que seja sem fazer nada. Até o tédio é importante para a organização mental dos mais pequenos, permite descobrir outras coisas para fazer, relaxar e descansar.
Façamos com que as agendas das crianças sejam mais preenchidas pelos pais e não por outras pessoas. A família é o elo mais importante.
Eduardo Sá defende que o que torna as crianças felizes é sentirem a presença dos pais. Quanto mais elas tiverem os pais nas suas vidas mais felizes serão.
Cada pai e cada mãe certamente se lembra como foi a sua própria infância e deseja a melhor infância para os filhos. Um convite a cada pai e mãe para se colocarem no lugar dos vossos filhos e pensarem como gostavam que fosse o dia a dia. E descubram formas de o concretizar, mesmo com as contingências laborais que limitam o tempo disponível.
Já a pensar no próximo ano letivo, ainda há tempo de antecipar e planear, em conjunto com as crianças, os períodos extracurriculares, para que também estes "tempos livres" vão de encontro ao interesse dos mais pequenos e haja espaço para serem crianças. E brincarem!