Controverso e um aliado de Vladimir Putin de longa data - esta ligação foi também confirmada durante a pandemia quando a Hungria aprovou a compra da vacina russa, apesar de não ter sido aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos - Viktor Orbán tem batido de frente com a Comissão Europeia em várias ocasiões e em diversos temas fundamentais. Qual é a mais recente? Na aprovação do último pacote de medidas de sanções contra a Rússia.
A Hungria e o resto da UE encontram-se atualmente em lados opostos da mesa que é a questão geopolítica europeia mais importante atualmente - a invasão russa à Ucrânia.
O sexto pacote de medidas contra a Rússia, que visa prejudicar o regime do Presidente Vladimir Putin, foi apresentado e desde então a União Europeia tem lutado para que este seja aprovado. Contudo, uma nação está a bloquear o procedimento, especificamente a proposta de embargo petrolífero. O fecho da porta do mercado europeu aos combustíveis fósseis russos, amplamente solicitado, é visto como uma estratégia chave para impedir o fluxo de receitas que estão a financiar a guerra na Ucrânia.
A proposta é de eliminar progressivamente o petróleo russo. A Hungria - país cuja dependência da energia russa é elevada - tem até ao fim de 2024 para cumprir as novas regras. Mas este período alargado não foi suficiente para agradar Orbán que exige mais tempo, atrasando assim o embargo a nível da UE que requer unanimidade por parte dos 27 Estados-Membros para seguir em frente.
A Hungria tem sido a oponente mais vocal da UE na proibição do petróleo. Budapeste continua a não dar sinais de querer assinar o embargo petrolífero, que o primeiro-ministro húngaro comparou a uma bomba atómica a atingir a economia do país. Esta oposição da Hungria tem trazido a Orbán alguns percalços na sua amizade com os países do grupo Visegrado (a aliança entre Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia para fins de cooperação), por exemplo. A República Checa, a Polónia e a Eslováquia estão no centro dos esforços para ajudar a Ucrânia, enviando armas para Kiev, de modo a serem usadas na sua defesa contra a Rússia e a Polónia é a principal defensora de um embargo da União Europeia à energia russa. Enquanto isso, além da oposição húngara à sanção do óleo, esta recusa-se a permitir sequer que armas com destino à Ucrânia transitem pelas suas fronteiras.
A realidade é que a União Europeia e Viktor Orbán não são um ‘match’ (viu-se também nas propostas anti-LGBT apresentadas pela Hungria) e a questão aqui é: até quando vai a Comissão Europeia permitir que o presidente da Hungria ponha em causa os valores do projecto Europeu?
Muito se debateu sobre o precedente que o Brexit abriu e da possibilidade de que outros países da UE fossem seguir o mesmo caminho, levando à desintegração europeia. Contudo, isso não se veio a verificar e até arrisco dizer que a Europa tornou-se mais unida e coesa depois da saída do Reino Unido. Para a Hungria, contudo, um divórcio da União Europeia pode ser a única resposta às irreconciliáveis diferenças que tem com Bruxelas. Porque o recém-eleito presidente Viktor Orbán não pode continuar a saltar de mesa em mesa quando lhe é conveniente, especialmente quando a UE tem uma guerra à porta.