As Ilhas Selvagens localizam-se cerca de 300 Km a sul da Ilha da Madeira. São constituídas pela Selvagem Grande (2,45Km2), Selvagem Pequena (0,20Km2) e o Ilhéu de Fora (0,08 Km2) e são um centro vivo da ciência, podendo aprender-se muito através dos seus mares e território.
As Ilhas Selvagens constituem uma referência quando se fala de conservação da natureza, quer se trate de área marinha quer se trate de área terrestre. As Ilhas Selvagens constituíram a primeira área protegida de Portugal, criada em 1971. Uma expedição da National Geographic, em 2015, considerou que o mar das Selvagens se encontrava entre os mais pristinos do mundo.
Atualmente, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens constitui a maior área marinha integralmente protegida de todo o Atlântico Norte, sendo uma clara demonstração da determinação do Governo Regional da Madeira (GRM) para a preservação dos Oceanos. Nenhuma região e nenhum país da Europa ousou ir tão longe nas suas políticas de conservação dos mares como a RAM, mesmo existindo convenções e estratégicas europeias que assim o determinam.
Para assinalar e comemorar os 50 anos desta Reserva, o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN), entidade gestora da Reserva, promoveu em abril do ano passado uma expedição a estas ilhas com cerca 40 investigadores, gestores e técnicos de 28 instituições, regionais, nacionais e internacionais. Foi a forma que o IFCN encontrou para chamar à atenção de todos, sobre a importância das Ilhas Selvagens e de todo o trabalho realizado ao longo destes 50 anos.
A equipa, multidisciplinar e marcada pela transversalidade e abrangência territorial, avaliou os habitats terrestres e marinhos. Abordou 11 áreas temáticas em terra e 12 no mar. Foram avaliados e inventariados grupos muito diversos desde os briófitos, moluscos e répteis terrestres, até aos campos de rodólitos que se encontram a maiores profundidades nos mares, passando pelas comunidades das zonas inter-marés à fauna costeira e pelágica.
Como plataforma logística de apoio de todo este trabalho, foi utilizado o navio Santa Maria Manuela, veleiro, antigo bacalhoeiro que navegou ao sabor do vento reduzindo ao máximo a pegada carbónica da expedição que se prolongou por 7 dias.
A visão subjacente a esta expedição passou por olhar o passado, avaliar o presente e preparar o futuro.
Hoje, no Museu da Eletricidade da Madeira será apresentado, como prometido, o relatório e programa de monitorização do trabalho realizado. Cada um dos grupos de trabalho apresentará as suas conclusões que estarão explanadas numa pequena publicação, tornando-se evidente que a Reserva Natural das Ilhas Selvagens está agora dotada de um Programa de Monitorização que permitirá uma avaliação continua do seu estado de conservação das suas espécies e habitats, que ao nível das políticas de conservação e tomadas de decisão da entidade gestora, IFCN, será fundamental. Realço a permanência e trabalho continuo e ininterrupto 24 horas por dia, 365 dias no ano do Corpo de Vigilantes da Natureza que com espírito de missão e sacrifício pessoal mantêm os objetivos estratégicos de conservação nestas ilhas e a soberania portuguesa do espaço.
Com maior complexidade, logística e financeira, estão os trabalhos no mar profundo. Julgo que aqui reside o maior desafio para o futuro, sendo que é importante ter presente que a área marinha desta reserva atinge profundidades superiores aos 3000 metros.
O que se passa nas Reserva das Ilhas Selvagens demonstra como deve ser a política de conservação da natureza. Os resultados obtêm-se a longo prazo, mas com determinação, empenho, visão, arrojo, como tem tido o GRM. Neste campo as políticas têm de ser responsáveis e não populistas.
Da parte do IFCN iremos continuar a trabalhar para que a expedição dos 100 anos da Reserva das Ilhas Selvagens seja um sucesso e que reflita o trabalho do IFCN e dos seus funcionários.