Num momento em que se vai assinalando, recorrentemente, e bem, que a atual geração é a mais bem qualificada; importa não perder de vista, também, por razões distintas, aquilo que poderíamos designar por “reverso da medalha”. Estamos a falar da apelidada fação geracional dos “nem, nem”. Trata-se concretamente da realidade jovem dos NEET (do acrónimo inglês not in employment, education or training) correspondendo aos jovens entre os 15 e os 29 anos, que estão desempregados ou inativos e afastados do sistema educativo ou formativo.
Vem esta reflexão a propósito da mais recente divulgação de dados apresentado pelo EUROSTAT ( https://ec.europa.eu/eurostat ). Na verdade, os dados apresentados dizem-nos que enquanto a UE conseguiu baixar, ainda que ligeiramente, a taxa, Portugal o sentido é o inverso. Concretamente, na UE em 2023 a taxa dos NEET foi de 11,2%, registando-se uma diminuição em relação aos 11,7% relativos a 2022. Já Portugal seguiu a direção contrária, com a taxa dos “nem-nem” a passar de 8,4% para 8,9%.
Naturalmente, que esta realidade deve preocupar os decisores políticos, avaliando os impactos que a mesma acaba por ter em termos sociais. De resto, o EUROSTAT assinala isso mesmo quando afirma, na apresentação dos dados, “existem riscos, tanto para o indivíduo como, a longo prazo, para a sociedade, se os jovens adultos se encontrarem desligados da educação e do mercado de trabalho”.
Existem, naturalmente, para um problema com uma multiplicidade de incidências transversais, em diversas áreas, desde as educacionais, familiares, saúde e sociais, fatores que merecerão devida ponderação e análise. Fatores, aliás, que, certamente, isolados ou conjuntamente, explicarão os motivos que conduzem a cada um destes “percursos”. Não obstante, urgirá tê-los presentes nas opções ao nível das políticas públicas, que devem atender ao emprego/educação desta faixa de desemprego; e, ainda, considerá-los nas evoluções globais, que os mercados de trabalho, educação e formação, vão tendo em paralelo com a evolução do próprio sistema económico.
Estamos, assim, perante um problema global que exige respostas públicas holísticas, que não devem esquecer, todavia, estas particularidades.
Reforçar o caminho no sentido de combater o abandono escolar precoce, por um lado, e o incentivo ao aumento das qualificações e competências profissionais, por outro, é fundamental. Mais, ainda, considerar o Trabalho como fator estruturante para os jovens, para as famílias e para a sociedade, fazendo com que aqueles -e estas- percebam o fator de inclusão que o Trabalho desempenha. A este propósito, sendo de resto uma “reivindicação” legítima das novas gerações, pagar a remuneração do conhecimento é fundamental. A remuneração do posto que o trabalhador ocupa deve atender e valorizar devidamente no seu valor: o tempo que é dedicado às funções que são desempenhadas, a competência demonstrada, o trabalho e a qualificação que são necessárias, além da responsabilidade envolvida.
Os empregadores em Portugal têm de perceber que têm de investir em valor acrescentado por posto de trabalho em lugar do trabalho como custo. Aliás, será esse investimento que permitirá depois remunerar melhor cada trabalhador. Nós acrescentaríamos, mesmo, que pelo impacto que terão em termos futuros- num desenvolvimento que acaba sendo global do país-, esta opção apresenta-se também como fator de competitividade e dinamismo económico nacional.
O desafio, diríamos ainda, é estruturante e geracional. Manter a coesão social deve, assim, constituir um objetivo que a todos deve mover e que urge não perder de vista. Convocar todos: parceiros sociais e educacionais, atores políticos e comunidade em geral torna-se, portanto, fundamental. Fazer perceber, por fim, a todos estes agentes, que o verdadeiro impacto das políticas públicas só é possível através de uma avaliação robusta, que permita estabelecer uma relação de causa-efeito com os resultados que se pretendem obter.