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Artigo de Opinião

Advogada

7/08/2024 08:00

Celebrou-se ontem o primeiro aniversário da visita do Papa Francisco a Portugal por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude que tiveram lugar em Lisboa entre os dias 2 e 6 de agosto e em que o nosso país foi o palco de “um evento de união, alegria e felicidade, presenciado por um milhão e quinhentos mil peregrinos em Lisboa”.

Católicos e não católicos, crentes e não crentes, ninguém, ninguém ficou indiferente aquele homem, simples e bom, que constitui na atualidade um dos poucos líderes mundiais que é seguido por milhões de pessoas.

O nosso querido Papa Francisco lidera pela humildade com que reconhece em cada pessoa, independentemente do seu estatuto ou fragilidade, alguém que é igual a si em dignidade. Também lidera pelo exemplo da simplicidade e pelo uso de uma linguagem que é facilmente compreensível e de grande proximidade. Sempre assertivo e atento aos pormenores, nunca deixa de nos presentear com um sorriso doce e em que nos transmite que é sempre possível fazer um caminho novo se a isso estivermos dispostos, reconhecendo que cada pessoa encerra uma história que é sagrada.

Juntamente com a Coordenadora do Grupo Vita (Dra. Rute Agulhas) e o Coordenador da ex-Comissão Independente, Dr. Pedro Setrecht, tive a oportunidade, e como representante das 21 Comissões Diocesanas para Proteção dos Menores e Adultos Vulneráveis, de ter privado com o Papa Francisco por ocasião do encontro com 13 pessoas vítimas de abusos sexuais de menores na Igreja em Portugal.

Creiam que foi um momento muito doloroso e em que acompanhámos a história de sofrimento de cada um daquelas pessoas que constituem para nós verdadeiros exemplos de superação diária das adversidades. E Sua Santidade, antes de escutar a história de abuso vivida, pediu perdão às vítimas, em seu nome e em nome da Igreja de Portugal pelos abusos infligidos, tendo, depois, escutado cada um dos relatos com profunda proximidade, misericórdia, de coração para coração. Foi com este gesto tão simples e humano que o Papa Francisco convidou a Igreja em Portugal a olhar para esta dura realidade que nos força “a abrir os olhos para a chaga do clericalismo que não diz apenas respeito aos ministros ordenados, mas a um modo de exercer o poder dentro da Igreja e no qual todos podemos cair”.

Efetivamente, somente um olhar atento à realidade, por mais dura que possa ser, é que nos move a concretizar novos modelos, novos procedimentos e a encetar políticas que reabilitem as vítimas e adotem modelos adequados de reinserção deste tipo de agressores.

Recordo-me de ter perguntado a uma vítima com quem tive o privilégio de estar durante todo esse dia, por que motivo nunca sorria..., respondeu-me: ..., “sabe fui fazendo a minha vida, criei uma família, tenho netos e estão todos bem..., já eu ... é como ter uma parede com um buraco em que ali põem a massa para disfarçar, mas o buraco por ali está e continuará ...!

Todas as histórias de vida apresentadas a Sua Santidade encerram momentos de um sofrimento atroz que não conseguimos alcançar. E a Igreja em Portugal, perfeitamente consciente do mal cometido, por intermédio da Conferência Episcopal Portuguesa, e sob o forte impulso de D. José Ornelas Carvalho, tem continuado a fazer o seu caminho, ainda que com dificuldades, e que culminou, agora, com a publicação, no pretérito dia 25 de julho, do “Regulamento das Compensações Financeiras às Vítimas de Abusos Sexuais Ocorridas no Contexto da Igreja Católica em Portugal”.

Pode parecer pouco para alguns, mas creiam que já constitui um verdadeiro sinal de proximidade para com as vítimas, não se olvidando que as políticas de prevenção constituem, também, uma das pedras angulares para que estas horrendas práticas não se voltem a repetir.

Levamos no coração cada uma das vítimas que conhecemos, bem como todas as outras, e todos, todos, Comissões Diocesanas e Grupo Vita, “não atracaremos o barco à margem”, antes substituiremos os medos e as angústias, por berços de acolhimento, escuta e auxílio.

Obrigada Papa Francisco!

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