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Artigo de Opinião

Subdiretor JM

7/09/2024 06:00

Se é dos poucos que andam a deambular pelas estradas da vida sem jeito para o queixume, então esta crónica é para si.

Saiba que para reclamar não é preciso conhecer todos os ângulos da discussão ou temática. Basta insistir num aspeto, aprofundá-lo e defendê-lo até à exaustão. Pouco importa dominar as razões que conduzem a determinada circunstância. Se acha que está mal, agarre a oportunidade para libertar alguma da tensão acumulada.

Ser um ‘artista do queixume ‘, no entanto, não é fácil. A arte da reclamação envolve esforço, persistência, regularidade e muita dose de paciência. Não falamos de um simples refilar por uma ou outra situação momentânea. Referimo-nos às queixas que se transformam em bandeiras pessoais, que quase caraterizam determinados indivíduos.

Não julgue, todavia, que aqueles que não reclamam – porque não sabem ou não querem – são pessoas satisfeitas. Não raras vezes, os que mais reclamam têm menos motivos para o fazer. A isso chama-se feitio. Ter ou não razão para reclamar é outra situação bem distinta.

Há ainda quem reclame com razão e não seja ouvido. Por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia conhece as queixas de alguns mediadores madeirenses, alvos de burlas porque os lojistas com terminais de pagamento não cumprem com a obrigação de destruir os raspas premiados. Mas, ao invés de penalizar os infratores e cortar o mal pela raiz, retirando as máquinas de quem colabora no esquema, a associação prefere lembrar, em declarações ao JM, que quem paga sem terminal não o deveria fazer. Haja misericórdia...

Esta semana, aliás, foi notícia o facto de o tecido empresarial ter sido intensamente fiscalizado por causa de queixas dos trabalhadores. Mais de mil em apenas ano e meio. Algumas certamente fundamentadas. Outras, evidentemente, desprovidas de sustentação numa altura em que o pequeno e médio empresário também se debate com o acréscimo da inflação e da redução dos proveitos. Compreensão e diálogo

Mais complexas são as denominadas reclamações conspirativas, assentes num emaranhado de suposições e teorias que consubstanciam conclusões em forma de queixa. Muitas são dirigidas aos jornalistas. Se escrevem sobre A é porque querem esconder o B. Mas se abordam o B é porque estão feitos com o A. E assim sucessivamente.

Por exemplo, o interesse de Mário Ferreira no ferry para a Madeira, que voltou esta semana à atualidade noticiosa através do Jornal, integra o leque de queixas conspirativas. Porque o ferry, que parece interessar simultaneamente a todos e a ninguém, é tema fora de tempo, imagine-se. Como se a notícia esperasse pelo timing de uns ou de outros...

Mas esta não é uma queixa. Bem pelo contrário. É apenas uma constatação em forma de conselho para aqueles que ambicionam ou já se iniciaram na área do jornalismo. Por mais que cumpram com as regras deontológicas, as notícias são sempre alvo de teorias complexas associadas à lógica corporativista do queixume faccioso. Portanto, o livro de reclamações é para manter fechado. Importa apenas a consciência coletiva de noticiar, sem apego, o que importa para o cidadão comum. Quem quiser se queixar, vai sempre fazê-lo. Ninguém faz a guerra sozinho. Os artistas do queixume que lutem sozinhos.

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