Não poderia hoje escrever sobre outro assunto. Felizmente o incêndio (apenas um) encontra-se extinto, mas infelizmente, como todos os incêndios, deixou marcas. Mas antes de tudo gostava de expressar a minha solidariedade para todas aquelas pessoas que foram afetadas pelo incêndio e todos aqueles que sofreram danos provocados pelo mesmo. Um incêndio é um incêndio e tem sempre impactos negativos, ainda mais um incêndio desta magnitude.
Mas passados os longos 11 dias em que o foco foi o combate, deveremos a partir daqui, analisar o que se passou e refletir sobre as questões que se colocam. Julgo que a reflexão deve ser geral, também no próprio IFCN entidade que tutelo. A reflexão e analise deste episodio não quer dizer que tudo esteja bem ou que tudo esteja mal, mas mal seria se com este acontecimento não houvesse esta atitude de aprendizagem e melhoria continua.
À floresta e à sua gestão é atribuída toda a culpa dos incêndios. É normal não é apenas na Madeira que isso acontece. Contudo a grande maioria dos incêndios que se tornam florestais não tem o seu início na floresta, como foi o caso do presente incêndio. Teve início fora da floresta em zona chamada periurbana, num terreno privado abandonado. Esta constatação determina que o problema dos incêndios não se resume à floresta e à sua gestão, é mais complexo que isso, é também um problema de ordenamento do território de utilização e ocupação do espaço rural.
Mas hoje, gostava de dar uma perspetiva da linha da frente do combate, uma perspetiva diferente daquela que circula na comunicação social e nas redes sociais. Uma perspetiva que a maior parte dos muitos especialistas na matéria que agora surgem desconhecem, pois muitos deles desconhecendo a realidade no terreno emanam opiniões como se ninguém tivesse estado no terreno a dar o seu melhor. Foram várias as pessoas/entidades que vestiram a camisola e não arredam pé ao combate. Não vou discriminá-las todas pois são muitas, várias centenas de profissionais, mas também imensos populares anónimos que não arredaram pé e que com coragem e determinação salvaram os seus pertences e muitas vezes ajudaram os seus vizinhos.
Mas como dirigente máximo do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN) entidade com responsabilidades na área florestal e na conservação da natureza, gostaria de louvar publicamente todos os funcionários desta instituição que desde a primeira hora estiveram no terreno. Foram mais de 100 os funcionários que com enorme espírito de missão, dedicação e sacrifício pessoal não arredaram pé, e durante vários dias, dia e noite estiveram na linha da frente.
Pois, não apareceram na comunicação social não apareceram nos vídeos que os curiosos fizeram para colocarem nas redes sociais, não aparecem nas publicações que a maior parte das instituições realizaram, não deram entrevistas a cadeias televisivas, mas lá estavam focados e dedicados no trabalho de extinção das chamas, pois só isso interessava no momento. Com os meios que o IFCN possui, camiões adaptados para o combate a incêndios, várias viaturas ligeiras de combate a incêndios (VLCI) e com as máquinas pesadas de rastos, com os Policias Florestais, com os Sapadores Florestais, com os Maquinistas, Vigilantes da Natureza, Assistentes Operacionais procedemos ao combate ao incêndio, por vezes desigual. A apoiar, supervisionar e a coordenar estiveram vários funcionários, técnicos e dirigentes do IFCN, pessoas que passam no anonimato, mas que desempenham um papel fundamental nestas condições. Não olhamos apenas para a floresta. Ajudamos como pudemos a população na salvaguarda dos seus bens. São estes funcionários que independentemente da hora, quando o telefone toca estão disponíveis a se apresentar ao trabalho não olhando a mais nada pois a missão do combate ao incêndio, sobrepõem-se a tudo o resto.
A todos estes funcionários, expresso aqui o meu reconhecimento e obrigado como dirigente máximo do IFCN e sei que estes incêndios afetam profundamente cada um deles pois a nossa missão é a proteção da floresta, e durante todo o ano o nosso trabalho é “cuidar” da floresta pelo que este cenário afeta profundamente cado um de nós.
Um reconhecimento a todas as forças Regionais, do Continente e da Região Autónoma dos Açores que estiveram no terreno a combater este incêndio, bem como a todos que estiveram no apoio logístico.
O meu obrigado e reconhecimento a todas as empresas que colaboraram de forma direta e indireta com o IFCN neste combate, disponibilizando sem restrições os seus meios, bastando para o efeito um simples telefonema.