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Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

17/10/2023 08:00

Ouvir a sua história de menino quanto eu era uma delícia. Na minha infância o Natal trazia-o na candura duma criança especial, predestinada a missões relevantes, mas que ajudava o pai na oficina de carpintaria e, afinal, faria as diabruras que todos fizemos, desaparecia dos pais quanto eu, (quando partia à aventura com o meu amigo Abelinho), talvez colhendo à socapa as favas verdejantes, as ervilhas arrumadinhas em vagens suculentas, matando a sede nas ameixas amarelas e nas fontes cristalinas.

Ou seriam outros os alimentos, que a sua terra não seria tão verdejante, imagino que favos de mel, ovos, frutos, insectos…

Apanhou ralhetes dos pais assustados e aliviados, julgando-o perdido em dia de romaria e multidão.

Os pais, naturais de Nazaré, subiram a Belém da Judeia para o recenseamento. Só que, inesperadamente, a mãe começou com as convulsões de parto. Dado o aglomerado de população que viera ao mesmo, tudo quanto era pensões, albergarias, tudo estava ocupado.
Restou-lhes uma gruta de recolha de gado e foi ali mesmo, na manjedoura com erva, que a mãe o depositou. Amamentado e aquecido pelo bafio dos animais que ali pernoitavam, tranquilamente adormeceu.

Vieram pastores que pernoitavam perto, vieram magos, que cometeram a imprudência de passarem pelo palácio de Herodes, governados da Judeia, a perguntar-lhe do menino destinado a ser rei.

Deu-se, então, o famoso e trágico episódio que sempre me deixou mágoa no coraçãozito de criança, da morte de todos os meninos com menos de dois anos, na tentativa de incluir esse futuro rei, que só não foi apanhado por, avisada, a família ter abalado para o Egito.

Anos depois, falecido Herodes, José e família regressam a Nazaré, província da Galileia, onde haviam vivido.

Durante uns anos não se ouve falar do menino, agora rapazito, que deveria trabalhar na oficina do pai, não se sabe se namorou, nem de que se ocupava, se gostaria de pesca ou de ler, se aprendera a cultivar a terra, ou pastorear o gado.

Um dia, homem feito, Jesus, assim se chamava o rapaz, aparece na Judeia a ser batizado por João Batista.

Isola-se, então no deserto, onde jejua, medita e se prepara para a missão.

Surge em Cafarnaum, na margem do lago ou mar de Tiberíades, já na Galileia, onde organiza o Centro de pregação e começa a congregar homens para a sua equipa. Não duvido que se fosse hoje, seria uma equipa mista…

Vão-se, então, fixando nomes de lugares que nos ficam das narrações das suas andanças:

Sicar, Samaria, poço de Jacó, Betânia, Naim, Caná , com as célebres bodas onde o vinho faltou e Maria, a mãe atenta, como só as mães o sabem ser , discretamente lhe sugeriu que resolvesse a situação de embaraço.

E Jerusalém sempre muito presente, com muitas passagens, entrada triunfante, hossanas e palmas, até ao grito raivoso: crucifica-o!

Então é hora de dar enfase à despedida, à última ceia, ao Monte das Oliveiras, ao Gólgota, Getsémani, ao Calvário, à Cruz, à Ressurreição!

Esses nomes e comunidades são protagonistas da revolucionária mensagem nova, ousada, criativa, são o acervo duma doutrina ou ideologia judaico-cristã, que se difunde all over the world.

E que transportamos em atos, raciocínios, expressões artísticas, que toma diferentes versões , mas que radicam nessa passagem por lugares que aprendemos a amar e respeitar.

Ouvir agora a brutalidade odiosa que assola tais lugares, que foram de fraternidade e amor, assistir de poltrona às reportagens em direto duma guerra anunciada, criminosa, duma violência extrema, que se tenta justificar por tratados internacionais, pelo direito à defesa e à vingança, é assistir e participar na autodestruição duma humanidade no limite do suicídio coletivo!

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