Podemos afirmar que 2024 tem sido dos anos mais controversos da vida política da Madeira. E o pior é que, pelo impasse saído do último ato eleitoral, esta crise tem efeitos transversais em todas as áreas de atuação do Governo Regional e tem impacto direto na vida dos madeirenses e porto-santenses. Por tudo isto, creio que todos nós precisamos de desanuviar.
Há vários culpados pelo presente estado de coisas. A começar na irresponsável postura do Presidente da República, o principal causador da instabilidade que hoje o país está mergulhado. A acabar na postura dos partidos políticos, armados em vingadores, na realidade estrategas do seu próprio interesse, mas disfarçados de defensores da nação.
A Madeira não é exceção e ora se vai assistindo a um exercício da intransigência, ao arrepio do que foram os resultados eleitorais e a expressão do povo. Agora é “com Albuquerque não”. O problema é que o “arranjem outra pessoa” em fevereiro já não servia, pois não havia “legitimidade nas urnas” para a escolha do presidente do governo, diziam. Aí defendia-se que a eleição era personalizada no seu cabeça-de-lista, por isso a sua substituição não seria legitimada sem eleições. As eleições vieram e o cabeça-de-lista foi legitimado na sua presente condição. Porém, agora é “escolham outra pessoa” pois esse já não serve. Depois a idiotice do não-sei-quantos-porcento não queriam o atual presidente para presidente. É uma teoria engraçada que, levada a sério, faria com que não houvesse presidente do governo pois nenhum candidato recebeu a maioria dos votos. Enfim.
O problema é que isto é tudo feito tendo como reféns o povo da Madeira. Não é não. Então, não há programa, não há orçamento, não há nada. Há a gestão do condomínio. O resto que se amanhe. Nada como entrar em 2025 com o orçamento de 2023, repartido por 12 meses. Bom para ser gerido pelas mentes iluminadas que vão ensinar aos pequenos como governar em duodécimos. Infelizmente o que se verifica é que nem há a inteligência de separar as águas – aprovar agora os instrumentos necessários e, posteriormente, atacar politicamente. Basta ler os Estatutos. É o que temos. A verdade é que esta postura de cowboys à espera do duelo ao meio-dia, deixa-nos todos em suspenso e, francamente, fartos disto tudo. Não tenho dúvidas que, indo a novas eleições, o povo irá manifestar, de forma bem vincada, a sua frustração, penalizando os causadores deste ‘status quo’.
Mas, a minha ideia para este artigo era mesmo para desanuviar. Está no título. Já há demasiada gente a perder muito tempo com isto. No meio deste caos, há diversos assuntos e eventos que deveriam ter mais tempo de discussão e apreciação.
Acabou neste sábado o Festival Atlântico. O evento músico-pirotécnico que leva milhares de pessoas à beira-mar para ver do melhor que a imaginação humana tem de oferecer. São milhares de explosivos utilizados para a beleza e não para a destruição. Foram quatro espetáculos de grande arte, mas, não deixando o crédito por mãos alheias, o de Portugal foi extraordinário. Valeu o tempo e vale o elogio.
Pepe e Ronaldo. Os dois Madeirenses da seleção portuguesa. Os jovens anciãos a mostrar, pelo seu exemplo, como o profissionalismo e a vontade de vencer, talento e alguma fortuna, criam longevidade ao mais alto nível, numa altura em que 99% dos atletas já está gordo da reforma. Pepe então tem sido gigantesco e já vão faltando os adjetivos para o que ele, aos 41 anos, ainda faz dentro de campo. Exemplar.
As imagens da Madeira em “A Acólita”, a nova série da saga Star Wars, da Disney. Tive a felicidade de ser um dos sortudos a poder visitar o set de filmagens na Madeira. Conheci algumas das pessoas envolvidas no projeto, incluindo a ‘acólita’ (não fazia ideia). Para termos noção, tratou-se de um projeto de mais de 165 milhões de euros para 8 episódios. Só na Madeira envolveu uma equipa de cerca de 400 pessoas, muitas delas, top na sua arte. No primeiro dia de exibição na plataforma Disney+ a série foi vista por 4,8 milhões de pessoas, chegando aos 11 milhões em 5 dias. Nos seus cenários estão as imagens da nossa ilha. Ribeira da Janela, Seixal, Boaventura, Fanal, Ponta de São Lourenço (que é cartaz), são imediatamente reconhecíveis na série, escapando ao trabalhando de pós-produção que poderia torná-los irreconhecíveis. Isto vale ouro. Sem falar que a palavra passa, e o sucesso do trabalho na Madeira nesta produção pode facilmente ser reproduzido noutros trabalhos.
Uma curta-metragem feita pelos alunos da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos do Caniço, intitulada ‘Reserva Natural do Garajau’, venceu o prémio no Ocean Youth Eco International Film Festival, que aconteceu este mês no Museu Marítimo de Hong Kong, na China. Este trabalho mostra a beleza daquela reserva, não descurando, por outro lado, o reflexo que as ações humanas têm nos oceanos. Este trabalho foi também selecionado pelo Japan World’s Tourism Film, reforçando ainda mais a relevância e o impacto do trabalho da equipa de alunos, projetando a sua mensagem a uma audiência global, levando também o nome da ilha da Madeira além-fronteiras.
Celebremos os bons exemplos.