Imagine esse combate como se ele se desenvolvesse num enorme tabuleiro de xadrez: vai ver peças a andar para a frente, outras a andar para trás, umas a mexer-se para o lado, outras na diagonal; umas vão ainda saltar por cima de outras, enquanto outras vão ser literalmente atiradas, ou sacrificadas, para fora do tabuleiro. A estratégia é cercar o Rei adversário e proteger o nosso.
O perigo do xadrez é que tão rápido pode parecer controlado, como num ápice fugir do controlo. É a dinâmica do desafio, aliás muito parecida com um jogo de bridge onde uma carta mal jogada pode comprometer irremediavelmente uma vantagem posicional. Por isso, é preciso cabeça fria e não relaxar em demasia. O mesmo se aplica ao cenário político quando tanto está dependente. E se no xadrez por vezes é necessário sacrificar uma peça para ganhar vantagem a montante, há que perceber que em política não há amigos ou estados de alma porque se vive (e sobrevive) de resultados. Daí que a estratégia dos partidos do governo (têm a vantagem posicional) seja diferente dos partidos que querem o lugar de governar (têm a vantagem de correr por fora).
É óbvio que estar na oposição na Madeira é mais fácil. Atente-se ao exemplo do PS local. Para os socialistas, a política é cavalgar a onda das manchetes de jornal, munir-se dos números estatísticos que se acham convenientes e prometer o céu na terra. Estão no seu direito, embora tal revele dois problemas: as manchetes duram pouco - e nem sempre têm o peso que lhes atribuímos - e as estatísticas não mostram toda a verdade - como qualquer indivíduo com dois dedos de testa, devia saber. Já prometer não paga imposto e só requer alguma lata. Ou bidão, se for mais à distância e meter aviões. Ou seja, o PS sacia-se com questiúnculas (algumas oriundas de intrigas), com números a pataco (que observam como fórmulas miraculosas) e com promessas fáceis (entoadas com ar de sapiência). Ser alternativa obriga, julgo eu, a mais. Mas talvez seja difícil pedir mais quando os dois principais estrategas desta burla já se puseram a milhas do possível sarilho.
Este facilitismo não se aplica aos partidos que estão no poder, o PSD e o CDS, porque a sua responsabilidade é maior e é diferente. Há como que um escrutínio mais incisivo sobre o que foi feito e é preciso mostrar as políticas e as obras executadas, os objectivos propostos e cumpridos e as ideias para o futuro. E ainda bem. Contudo, há coisas que devem e podem mudar. Não falo da orientação ideológica, da visão ou da proposta política num todo. E não falo da coligação, que está decidida e sufragada pelos órgãos do partido, e com a qual concordo. Falo da necessidade de rejuvenescer lugares, de mudar alguns dos protagonistas, de repensar e de mexer em estruturas e orgânicas.
As coisas são o que são, mas há certas peças que sentimos que podiam funcionar melhor e outras que apenas funcionam quando se insiste na manivela. Por certo, também haverá peças desmotivadas e sem chama inspiradora e outras que parecem a mais (no sentido político). Há ainda aquelas que vivem da intriga e do ciúme e outras que estão à sombra da bananeira, negando-se aos sacrifícios. Não pode haver contemplações para quem está conformado, não demonstra solidariedade e não acrescenta ao projecto em curso.
O sucesso do PSD na Região está acoplado à capacidade de transformar positivamente a Madeira e o Porto Santo, de ser farol e timoneiro, de conduzir o madeirense ao seu melhor, liderando-o nos bons e nos maus momentos. De revolucionar, sem revolução. O líder do PSD/Madeira sabe o que é interpretar esse papel. E sabe a importância do tempo e da ponderação em política onde, tal como no xadrez, umas vezes se ataca, e outras vezes se defende, sem abdicar da filosofia de jogo (autonómica e social-democrata) ou recuar (nos direitos garantidos) para posições indefensáveis.
O futuro vem aí e os problemas são a tormenta que vemos surgir no horizonte e que mais cedo ou tarde (não haja dúvida sobre isso) vai atingir (ou continuar a atingir) os europeus com diferentes intensidades: novas crises de dívida soberana, a inflação, a estagflação, a guerra longa, a quebra da natalidade e o envelhecimento populacional, as mudanças geopolíticas, a emigração, as alterações climáticas ou a nova Guerra Fria. A isto se adiciona um país que nos empurra para baixo em vez de puxar para cima. O resto é a geografia que somos e os problemas estruturais da ultraperiferia e insularidade que connosco coexistem. Não há milagres (sem trabalho árduo). Nem promessas de facilidades (vindas do lado do PSD). Nunca as houve. Mas há liderança, responsabilidade e determinação. Parece-lhe pouco? Para começo, são três coisas que nenhum dos outros tem para oferecer.