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Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

20/06/2021 08:00

O «velhote» gramava o «puto». Reguila, esperto, travesso, desembaraçado, passa férias com o avô, partilhando a sua paixão pelos pássaros, pela agricultura, de que sabia épocas e cuidados, pelo pomar de pera rocha, pelos laranjais e kiwis.

Quando a avó partiu, o velhote entrou em declínio e depressão, foi o neto o seu arrimo, a quem se abria e se expunha, historiando a vida. As contas bancárias ficaram solidárias, que isto de viver e morrer é um sopro. E o «velhote» confiava.

Entretanto o rapaz fez a tropa, curso profissional de jovem agricultor. Meteu-se por caminhos enviesados, só de longe em longe vinha ver o «velho», conduzindo uma máquina potente e cheia de acessórios que a tornavam a bomba do lugarejo. O avô sorriu triste, preocupado com aqueles sinais exteriores de abastança vaidosa. Coisas de gente jovem, pensava consigo.

Naquela manhã, foi ao banco avaliar as poupanças. Queria substituir uns eletrodomésticos já obsoletos. O funcionário chamou-o ao gabinete.

- Amigo, temos aqui um problema, a sua conta principal está a zero… O seu neto levantou tudo, dizendo que era a seu mando.

O «velhote» arregalou os olhos, donde rolaram duas gotas, lançou as mãos ao peito e caiu fulminado.

Aquela, quando a tia septuagenária enviuvou, sem filhos, mas já de testamento feito a favor de enteados que a tinham a seu cuidado, atentos à sua condição, aquela sobrinha passou a ser a companheira frequente, simpatia a rodos, quando antes nunca a visitava. Passeios, idas a missas e festas, acompanhamento a compras, enfim, uma amizade súbita, feita de presença constante, avassaladora, telefonemas frequentes a querer saber de tudo. E tudo lhe era contado, ingenuamente, na confiança duma amizade «abençoada» que lhe surgiu num repente.

Espertalhona, a nova «amiga» descobriu que a tia era agora a única dona do prédio onde vivia.

No dia em que se apanhou de escritura de doação feita em seu nome, a «amiga» ligou há tia à gargalhada, reveladora das suas reais intenções, que a «simpatia» não passava duma estratégia diabólica, para os seus intentos mesquinhos, chamando-a de parva, estúpida, tonta, que estava farta de aturá-Ia, e que se preparasse, pois em breve precisaria da casa agora sua.

Internou-a num lar, onde nunca a visitou.

O dia 15 de junho foi O DIA MUNDIAL DA CONSCIENCIALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA.

Estes serão pequenos exemplos da imensa violência que vai grassando e sendo cada vez mais comum contra a pessoa idosa.

Geralmente serão atos praticados por pessoas próximas… Além da física, a violência é psicológica, construída com ameaças, desprezo, humilhações, insultos, provocando o isolamento social, as insónias, a depressão, o medo.

É frequente o abandono, a negligência, a violência sexual ou financeira, o escárnio pela calada, os maus tratos.

É a OMS quem anuncia que Portugal, este País de brandos costumes e bastamente religioso, está no topo mundial da lista de maus tratos à pessoa idosa.

A pessoa idosa é vulnerável, frágil, insegura, vítima, a justificar uma Comissão Protetora.

Alguns Municípios deste País, (infelizmente, talvez nem chegue ameia dúzia), instituíram os Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa.

Criaram a figura do PROVEDOR DO IDOSO, que assegura a representatividade da população menos jovem junto das instituições.

Justifica-se que, para atos ou decisões que afetem a vida e os interesses dos idosos, se promova o acompanhamento e a avaliação das situações por entidades que tenham a função de as monitorizar.

Instituir o Provedor do Idoso é uma urgência!

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