Se a política é daquelas profissões que nos dão as maiores alegrias, constitui-se simultaneamente como a que nos provoca os maiores engulhos. Porque, diz-nos Rubem Alves, cada vez há mais pessoas que exercem os cargos políticos não por vocação e amor, mas porque só retiram felicidade dos ganhos pessoais que derivam do seu exercício do poder.
Há dias lemos na comunicação social mais umas tiradas inspiradas do presidente do Governo Regional (GR) da RAM, disparando mais uma vez contra o governo da República e alertando para o desastre a caminho, com consequências para os bolsos dos e das portuguesas. Espanta-me que tenha tanta preocupação com o nosso porta-moedas, quando o próprio GR nos obriga a pagar do nosso bolso as desastrosas opções governamentais do seu governo com as Sociedades de Desenvolvimento. Vejamos, nos dois anos de pandemia (2020 e 2021), em que quase toda a gente teve quebras significativas nos seus rendimentos financeiros, o GR injetou 50 milhões de euros nas Sociedades de Desenvolvimento. Nos últimos 4 anos, foram lá despejados 150 milhões de euros.
Os orçamentos dão-nos uma visão clara do ponto a que quem o elabora quer chegar. Ora, nunca esquecendo que a Madeira tem a mais elevada taxa de risco de pobreza e de exclusão social de todo o país, a segunda maior taxa de pobreza da população empregada, a maior taxa de privação material severa e o mais baixo poder de compra do todo nacional, penso que qualquer pessoa defenderia a importância de desenhar uma política estruturante de combate à pobreza e de incentivo ao desenvolvimento económico e financeiro da RAM. Vejamos as escolhas do PSD e do CDS no orçamento para 2022: apostaram na redução das verbas destinadas a medidas ativas de emprego, na redução dos valores dos complementos para idosos, no corte de 24 milhões de euros nas áreas sociais, no corte de verbas na área da saúde. Contudo, decidiram gastar 20 milhões de euros no pagamento de cargos políticos e decidiram injetar mais 22 milhões de euros nas sociedades de desenvolvimento, continuando a usá-las como sorvedouros sôfregos de dinheiros públicos e paraísos de pagamento de salários a "boys" e "girls" do regime.
Quem é tão lesto a apontar constantemente o Governo da República como o inimigo público da RAM, não tem clarividência para ver que nos continua a conduzir para buracos financeiros sem fim, com tremendas consequências para o erário público e sem quaisquer perspetivas de futuro? As questões do empobrecimento e da exclusão social da população não se apresentam como de resolução prioritária para PSD e CDS?
Julgo que na RAM temos sido governados por políticos que só querem a satisfação imediata dos seus interesses, tentando manter-se a todo o custo no poder, não trabalhando, por isso, a médio e a longo prazo. Como diz Rubem Alves, "quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las".
Espero que a História lhes assaque esta responsabilidade da criação da Região com a mais elevada taxa de risco de pobreza de Portugal.
Bom 2022! Que cada um de nós seja melhor do que foi durante este ano.