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Artigo de Opinião

Sou fã do RAP. É inteligente e crítico, não escapando ninguém às suas observações. Num dos episódios dos Gato Fedorento perguntava “Sabes onde é que há gajas boas? Sabes onde é que as há? Sabes?” No final da rábula, o personagem tosco acabava por esclarecer que elas existiam em... Ermesinde, retificando passados uns minutos que afinal era um gajo e que, por vezes, se precipitava nos julgamentos que fazia...

Vem isto a propósito do que se passa com frequência na RAM. Há pessoas que, quando lhes dá jeito, gostam de delimitar geograficamente direitos de cidadania que pertencem a qualquer português. Na Constituição as balizas para a participação política não se restringem a uma zona do País. Aliás, quanto maior for o envolvimento das pessoas na vida política, melhor a qualidade da democracia. Todavia, parece que em alguns locais isso não é para toda a gente. É só para alguns. Na Madeira, desde há muito, que se denigre quem usa os seus direitos políticos para participar na coisa pública, se não tiver nascido cá, especialmente se o fizer representando partidos políticos que não sejam da cor que importa. Os argumentos apresentados para essa exclusão não são as ideias, os projetos ou as causas. Não. É mesmo a origem geográfica e não estar do lado certo da política.

O laranja, claro.

Já é um clássico. Ser “cubano” é argumento considerado suficiente e definitivo por militantes laranjas com lugar cativo nas hostes dirigentes, ou com ambições para tal, para desprezar, diminuir e rebaixar quem está na política e não nasceu cá. Aliás, já serviu para ameaçar lançar pessoas num precipício, caso não apanhassem um avião que as levasse para fora da ilha. E muita gente se cala, mesmo discordando do facto de se criticar com base na origem geográfica. Podemos mesmo concluir que é quase uma condição “sine qua non” para conseguir subir na escala hierárquica.

A laranja, claro.

No cenário político que estamos a viver na Madeira e nos 50 anos do 25 de abril, considerar que devem existir eleições para clarificar o imbróglio decorrente dos processos associados a corrupção e outros crimes e que denigrem as instituições democráticas é considerado pelo tal partido laranja como ruído, ânsia de poder, vontade de ir ao pote, precipitação, deslumbramento. Dentro desse mesmo partido, quem tem e defende essa visão é apupado em reunião magna. É a democracia musculada a funcionar. Aquela que funciona há 50 anos na RAM.

A laranja, claro.

O facto de, em novembro de 2023, haver um 1º ministro que se demitiu só pela suspeita de que poderia vir a ser constituído arguido, mas que até hoje não o foi preservando as instituições democráticas, serviu para a máquina partidária madeirense no poder há 48 anos atacar forte e feio o Partido Socialista. Contudo, não se vê essa mesma máquina a questionar a legitimidade de quem é arguido em 3 casos de corrupção e pretender eternizar-se no poder sem eleições, equacionando mesmo recandidatar-se ao cargo de presidente do Governo Regional. Preferem atacar de forma soez quem se envolve na ação política por um partido diferente do seu e que acredita que o seu projeto tem pensamento, é sólido e estruturado, tem bons quadros técnicos e políticos e considera que vale a pena lutar para construir uma sociedade diferente e mais justa sem medo de ir a eleições, apesar de todas as dificuldades que um regime gasto e alapado há 48 anos cria a quem tenta fazer diferente.

Por estes dias dou por mim a perguntar-me “Sabes onde é que há pessoas imunes, impunes e alapadas? Sabes onde é que as há? Sabes?” Mentalmente esclareço-me: no partido e no regime que governa a RAM há 48 anos. Qual?

O laranja, claro.

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