Hoje vou falar sobre essas estruturas que nos encimam as casas com mais ou menos graciosidade, definindo as paisagens em que vivemos. Variam de cultura para cultura e de terra para terra, conforme os materiais mais acessíveis em cada localidade ou consoante a criatividade e recheio da bolsa dos proprietários. Também variam em grau de inclinação para se adaptarem às exigências atmosféricas de cada zona. Vão mudando ao longo dos tempos, de acordo com a evolução e a moda. Já tivemos casas cobertas com colmo, com terra, com madeira, com zinco e até com materiais de fibras tóxicas como o amianto.
Na nossa ilha, a paisagem sobe pelas encostas numa sequência de coberturas de telha cor de tijolo a compor um mosaico com o colorido dos jardins ou de pequenas parcelas de terreno ainda sem construção. Habituámo-nos a esses chapéus de barro cozido dos quais sobressaem orgulhosas chaminés, como se fossem a pluma que os enfeita. Para além da chaminé, outrora, era comum colocar nos extremos dos beirais e nas cumeeiras "remates de telhado". Eram figuras em barro de animais, cabeças de criança, estilizações de folhas, setas ou seres imaginários como grifos ou dragões que, mais do que decorar, tinham como propósito promover a prosperidade, a saúde e, simultaneamente, espantar o mau-olhado, o azar ou a intromissão de algum espírito malévolo na vida familiar. À medida que as crenças e superstições foram sendo desvalorizadas pela sociedade, o recurso a estas figuras desapareceu. Todavia, se olharmos com atenção, ainda encontramos alguns exemplares.
Outras alterações têm ocorrido nos nossos telhados. Tempos houve em que eram encimados por verdadeiras florestas de antenas feitas de varetas metálicas para captar os sinais de televisão. Quase todos tínhamos duas; uma para as emissões portuguesas e outra para a TVE, a primeira que nos chegou e da qual não quisemos abdicar quando iniciaram as transmissões da RTP - Madeira. A tecnologia avançou e às antenas de varetas associaram-se os pratos das parabólicas. A chegada das telecomunicações por cabo viria a desembaraçar os telhados destes inestéticos acessórios que, paulatinamente, foram desaparecendo. Seria, contudo, situação de pouca dura porque logo surgiram as estruturas para apoio aos painéis solares e fotovoltaicos.
Hoje, em muitas das novas construções, opta-se por cobertura em terraço, onde com mais facilidade se pousam os, agora obrigatórios, painéis que almejam diminuir a nossa pegada ecológica. O efeito visual é bem menos bonito do que o dos telhados da nossa tradição e anseio o dia em que estes estendais de quadros pretos e brilhos metálicos sejam substituídos por outros, que, mantendo o propósito ecológico, tenham aparência mais semelhante à das tradicionais telhas de cerâmica.
Qualquer que seja a sua forma, o telhado é sempre uma asa estendida sob a qual nos abrigamos na busca de conforto e segurança. Infelizmente, nem sempre lá estão e até se diz que "debaixo de cada teto se esconde um drama", o que me leva a outras simbologias linguísticas. Dizemos, por exemplo, "quem tem telhados de vidro não atire pedras" para recordar que todos somos falíveis e, por isso, devemos ser menos críticos com os demais. Também consta haver quem prefira não ter telhado para poder ver as estrelas. Uma imagem tão poética quanto a da aconchegante sensação de estar enroscado em casa a ouvir "o gato na telha", como dizia a minha mãe, quando as gotas da chuva pingavam mansas no telhado.