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Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

11/12/2021 00:01

Mesmo que dezembro já tenha acendido as luzes da cidade, mesmo que as montras nos gritem a necessidade de comprar a felicidade, mesmo que as nossas casas (felizes, as nossas casas!) já estejam prontas para a Festa, a verdade é que temos notícia de outros natais.

E é sobre eles esta crónica deste mês: sobre o perigo de não haver esperança para todos, sobre os monstros escondidos atrás das pedras; sobre a morte que paira nas nuvens mais negras; sobre a falta de tantas coisas; sobre gente que morre nas esquinas, sobre gritos de guerras; sobre os que, apesar das luzes e dos sinos, permanecerão invisíveis.

Às portas da Festa, desembarco as minhas palavras nas ruas onde habitam as sombras, nas florestas onde mora o desespero de quem fugiu do medo e só encontrou a noite, nos mares onde naufragam as crianças que talvez transportassem em si a chave da luz, nas casas onde as lágrimas decorarão os pinheiros que nunca foram montados e onde não cheira a infância.

Falo de (outros) natais onde mora a saudade e a solidão dura dos que são sós. Falo do vazio dos espelhos e da tristeza líquida e baça dos olhos de quem já não se quer. Falo dos sepulcros de silêncio disfarçados de gargalhadas. Falo de nós e da nossa incapacidade de dar sentido aos passos que damos. Falo de nós, portanto. Cidadãos do mundo.

Sei que de nada servem as palavras desta crónica. Sei que esses (outros) natais acontecem no mundo e à minha beira. Sei que o Natal continua uma lição por aprender. Como é que Deus que é Deus vai nascer Menino, tão pobre como os mais pobres? Como é que Deus que é Deus vai nascer nesses lugares onde só a dor aquece do frio, onde só o assombro da fé (ou do amor ou do sonho ou do desespero) impedem de desistir?

Por isso, meus amigos, é urgente que o Natal seja verdade, que o Menino Jesus nasça no peito de quem pode mudar o curso da História, na força de quem pode mudar a vida de alguém, nas mãos de quem pode, com coisas pequenas, mostrar que ainda vamos a tempo de salvar o mundo. É urgente que o Natal ilumine as nossas sombras como se faz com a cidade.

E, por favor, se alguém avistar a estrela, que avise. As noites têm estado muito escuras nos presépios do mundo.

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