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Artigo de Opinião

Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Advogados

13/11/2024 08:00

Pois, é, ao ler o título, já deve estar a pensar em mil coisas relacionadas com a expressão, “tens lume”.

Tantas e tantas vezes ouvi esta pergunta e, claro está normalmente conotada aos fumadores, mas, nalguns casos, também associada a uma forma de interação com outra pessoa, não para acender o cigarro, mas para meter conversa com ela – pecador me confesso.

Verdade, era sempre aquele velho truque: tem lume?, ao que correspondia a sacramental resposta: não fumo; a partir daqui estava lançado o tema para a conversa, aliás que foi cenário de muitos filmes onde a elegância da senhora com a sua boquilha/cigarrilha era complementada com o charme do cavalheiro, que prontamente puxava do seu isqueiro.

Até, imagine-se, o passageiro que viajava na fila 19 do avião, a quem fora atribuída a regalia de poder fumar, pedia lume ao passageiro da fila da frente, que, já estava em zona de não fumador, mas que, nada o impedia de dar lume, aproveitando para inalar umas fumaças vindas da cadeira de trás.

Hoje, ao escolher o tema para estas linhas, pensei num outro título que era, a folha de papel e o copo de água, isto porque costumo dizer tantas vezes que estas duas coisas (papel e água), são tão inofensivos, mas, se repararmos, por exemplo, no papel, acumula-se de tal modo nas nossas secretárias e nos escritórios que, quase nos escondem e apetece pegar-lhes lume. O mesmo com a água, de tão importante e inofensiva que, num copo, é um regalo, mas que tem sido responsável por grandes catástrofes mundiais, como aconteceu recentemente em Valência (população a quem manifesto a minha solidariedade), ou entre nós de forma mais grave no fatídico vinte de fevereiro.

Quando falamos de água, associamos ao saciar a sede, tomar banho, nadar, regar, sem que numa primeira imagem, nos ocorram, as cheias, os marmotos, as aluviões, e tudo aquilo que de mau, a água pode provocar.

Nem mais a propósito, decorre entre os dias 11 a 22 de novembro, a COP29 que reunirá em Bacu, no Azerbaijão, a Cimeira mundial sobre a Ação Climática, dando início à 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP29. Uma cimeira, cujos resultados dependerão muito da posição de Trump, recém-eleito presidente dos EUA, o qual tem desvalorizado esta problemática.

Bem, mas vamos voltar ao lume. Que realidade também mutável. Desde 1836, eram os fósforos (numa carteirinha ou numa caixa – quem não se lembra daquelas desdobráveis), com o cheiro a oxidantes, enxofre e cola que nos invadia as narinas, sempre que o fazíamos entrar em atrito com a lixa, colocada na parte externa da caixa.

Com a evolução, os fósforos foram sendo substituídos pelos isqueiros, que assumiram papel importante de tal modo que, o Decreto-Lei n.º 28219, de 24 novembro de 1937, emitido pelo Ministério das Finanças – Direção Geral das Contribuições e Impostos, disponha que “é proibido o uso ou simples detenção de acendedores ou isqueiros que estejam em condições de funcionar, quando os seus portadores não se achem munidos da licença fiscal“, passando o isqueiro a fazer parte dum estatuto social, pois apresentar, por exemplo um “Ronson”, era, como se diz agora, de valor.

A etimologia da palavra “lume” remonta ao latim “lumen”, que significa luz ou claridade e, é utilizada em diversos contextos, revelando uma profunda versatilidade, seja na culinária (pôr a panela ao lume), na música onde exterioriza a paixão e a criatividade ou na poesia, onde revela a esperança e a inspiração, significados estes, também aplicáveis à justiça, onde os advogados simbolizam essa paixão e criatividade, essa inspiração na aplicação do direito e na defesa do cidadão, capaz de criar na sociedade a esperança de um mundo melhor.

Vejam a conversa que tive com aquele meu cliente. Diz-me ele: Doutor, hoje parece que leva lume. Realmente estou um pouco apressado, respondi-lhe. Olhe que hoje está quente como lume, a andar assim, vai ficar todo molhado. Verdade, disse-lhe. Olhe, molhado também fiquei eu hoje de manhã, quando ia acender o lume e já não tinha gás. Não me enrasquei, acordei o pequeno e pedi-lhe que fosse à mercearia, ui, até levava lume no rabo. Doutor, por acaso não tem lume? Então, agora já fuma, interroguei-o? Não fumo, mas vou agora à escola do meu filho cantar os parabéns e, não tenho isqueiro para acender a vela.

Interessante, no outro dia, passei por este problema, pois, dos vinte e tal presentes num aniversário, mais de metade não fumava, os restantes já são utilizadores do cigarro eletrónico e o único que ainda fumava cigarro de tabaco, olhou-me e perguntou: tens lume?

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