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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

23/02/2022 08:00

Esta é uma boa altura para lhe dizer que vivo em Bruxelas, daí a onda de notícias que recebi. Primeiro: isto ainda não está em vigor. Quando finalizado o texto do acordo, será submetido aos parceiros sociais para parecer, voltando depois ao governo antes de ser enviado ao Conselho de Estado para análise e sendo finalmente votado no Parlamento. Ou seja, vai demorar. O plano é: os trabalhadores que quiserem optar pelo novo regime poderão trabalhar até 10 horas por dia, em vez das actuais 8 horas, e descansar três dias por semana pelo mesmo salário. O objectivo é dar aos trabalhadores uma janela maior de descanso para que possam realmente desconectar do trabalho.

Apesar de estar um pouco céptica em relação a este anúncio, acho uma medida formidável. Quantos de nós, durante a pandemia, trabalharam mais do que as 8h porque não havia um claro corte no tempo e no espaço quando as 18h batiam no relógio? A nossa sala era o nosso local de trabalho, tornando-se mais difícil desconectar pois o computador estava sempre ali, como um Big Brother. Para mim, os primeiros meses de confinamento foram difíceis em termos de encontrar um balanço saudável. E volvidos quase dois anos desde o início deste capítulo, a melhor coisa que veio trazer é a sensibilização para a importância de um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional com foco na saúde mental. É preciso entender que trabalhadores felizes são trabalhadores produtivos.

Porque sou céptica? Infelizmente esta medida não chegará a toda a força de trabalho belga. E, até agora, não conheço ninguém cujo chefe já tenha abordado o assunto. Mas é inegável: estamos a viver numa era de transformação radical no local de trabalho. Opções como 100% teletrabalho ou híbridas - que eram completamente impensáveis para a maioria das pessoas há apenas dois anos - estão agora a tornar-se parte do trabalho em geral. E estudos atestam as mais-valias de semanas de trabalho reduzidas. Um relatório de 2021 que acompanhou trabalhadores suecos durante uma década mostrou que a redução do horário de trabalho reduziu o stress, o esgotamento e a emoção negativa. E há muitos outros estudos que poderia mencionar.

Uma semana de trabalho normal de 40 horas não tem em vista a eficiência. Uma pessoa não consegue manter o mesmo nível de energia durante oito horas seguidas, vezes cinco dias. Isto faz com que sejam menos eficazes, e em última instância, mais stressados e infelizes. Por isso também vimos nos últimos dois anos um pico no número de casos relacionados com a saúde mental.

O peso crescente sobre a saúde mental tem sido referido por muitos como a "segunda" ou "silenciosa" pandemia. E se a próxima crise de saúde global for uma pandemia de saúde mental? A ansiedade e a depressão podem destruir ideias, a energia do indivíduo e eventualmente a economia. Conheço uma mão cheia de pessoas próximas que no último ano despediram-se porque não aguentavam mais. E muitos dos que estão a aguentar, fazem-no por um fio, a viver dia atrás de dia, à espera que o salário caia na conta. São infelizes e sabem-no.

Já era tempo que se pusesse em cima da mesa uma forma de trabalho mais sustentável, adequada ao mundo novo em que vivemos. Um modelo que nos permita ter tempo para viver além da secretária. A saúde mental com certeza agradece. É uma solução mágica? Não, mas é um bom começo.

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