Quando tudo parecia indicar que estávamos perante um parlamento regional com o mínimo de responsabilidade e sentido de estado, quando em vésperas da apresentação de um novo orçamento regional que estava a ser negociado entre o Governo Regional e os diferentes partidos políticos, quando pela primeira vez em muitos anos teríamos a cimeira entre os governos da República e Regiões Autónomas para garantir melhores condições e medidas que garantam uma verdadeira coesão territorial, eis que entramos novamente num quadro de instabilidade política e governativa perante a apresentação de uma moção de censura ao Governo Regional da Madeira.
Atenção que não tiro qualquer legitimidade ao exercício daqueles que são os direitos dos deputados e grupos parlamentares eleitos, da mesma maneira que não questiono a legitimidade de quem vence eleições de querer governar, questiono a falta de oportunidade desta moção, questiono a falta de capacidade de análise do quadro político regional e questiono a falta de responsabilidade perante os madeirenses.
A verdade é que este quadro parlamentar fragmentado, muito bonito do ponto de vista idealista, em que diferentes visões, credos e filosofias dão as mãos em acordos e ligações para o bem comum, para o bem de uma população, poucas vezes se concretiza e ainda menos vezes perdura. A aprovação do orçamento de 2024 foi uma autêntica novela com avanços e recuos, de acordos e arrufos, de entendimentos e cisões profundas, mas lá passou. Agora, nem 4 meses volvidos, voltam a mergulhar a Madeira na incerteza, na instabilidade e na ingovernabilidade.
A moção fez mossa, mas a falta de faro e desorientação política do maior partido da oposição ainda arrastou a Madeira mais para baixo. Estamos perante um PS incapaz de tomar as rédeas e chamar a si a condução de uma oposição séria, assertiva e cirúrgica, pior, estamos perante um PS cuja liderança carece de pulso, de vigor e de direcção. A liderança actual do PS vive do momentâneo e de aparências. Paulo Cafôfo acabou encurralado pelo Chega e esmagado pelas vozes mais sonantes do seu próprio partido que exigiam sangue e cabeças roladas. Paulo Cafôfo cedeu, cedeu sem perceber que era a sua própria cabeça que estava a prémio e o seu próprio sangue que seria derramado. O PS caminha a passos largos para mais uma derrota estrondosa pelas constantes contradições e falta de linha orientadora, por não ter conseguido tornar-se e posicionar-se como uma verdadeira alternativa, abrindo espaço e caminho aos verdadeiros populistas, com assento no parlamento regional, que não se sentam à direita, mas sim à esquerda, e que aproveitaram ao máximo a situação e chuparam até ao tutano o tempo de antena, que culminou com “uma comissão política nacional” que pariu um rato.
O carácter extemporâneo desta moção, a contradição exuberante dos argumentos utilizados que chocam e ridicularizam as várias posições públicas tomadas ficarão certamente para a história da nossa democracia. A presunção de inocência que foi validada em eleições regionais, onde o povo votou e falou, que permitiu acordos de incidência parlamentar que viabilizaram um governo e um orçamento, não mudou. Nós madeirenses não vimos qualquer alteração a esse princípio.
E aqui, volto ao início, não tiro a legitimidade ao que são os direitos conquistados e adquiridos, via regimental ou eleitoral, mas há um interesse que se sobrepõe a todos e a qualquer direito, o superior interesse da Madeira e de todos nós madeirenses.