Esse acto, candidamente apelidado por Clinton de "Parceria pela Paz", é o principal responsável pela agressão de que este Estado Soberano vem sofrendo desde 2014, e que teve como principal consequência a invasão por forças regulares russas na madrugada desta quinta-feira. Tivesse a Ucrânia armamento nuclear e Putin não se atreveria a qualquer acto semelhante ao que perpetrou na Geórgia em 2008. Porque também é pela simples razão da Rússia ter um extenso arsenal nuclear, que evita uma intervenção ocidental, à semelhança do que aconteceu no Iraque, Líbia ou Afeganistão. É o Ultrapragmatismo a impor-se.
Durante algumas semanas pairou a dúvida sobre qual a estratégia de Putin. Se estaria a criar um enorme bluff, "pedindo muito para ficar com o suficiente", ou seja, ameaçando uma ofensiva em grande escala para apenas consagrar a independência (para posterior integração na Federação Russa) das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. Se pretenderia alargar a influência a toda a região do Donbass, onde se inclui o importante porto de Mariupol, ou, de forma mais ambiciosa, incluir a tentativa de decapitação do governo em funções, para instauração de um executivo fantoche na Ucrânia. Parece ter sido esta última a escolha de Putin. Veremos com que consequências.
Ao mesmo tempo observamos uma União Europeia impávida. Sem liderança. Sem líderes carismáticos de que o último exemplar foi Ângela Merkel, a Europa vai a reboque dos acontecimentos, prometendo pacotes atrás de pacotes de sanções que, se não forem as que realmente façam doer a Rússia e o regime, não passarão de motivo de piada nos corredores do Kremlin. A verdade é que a Rússia de 2022 não é a União Soviética de 1990. Enquanto a segunda praticava um política de autossubsistência, dentro da Federação de 15 estados, e alargada aos países do pacto de Varsóvia, onde a esmagadora maioria do povo vivia miseravelmente em contraste com as elites, que desfrutavam do que o regime lhe podia dar, a Rússia de 2022, a sua classe média e as elites oligarcas, gozam proporcionalmente dos luxos do capitalismo, que convive alegremente com um regime em constante aceleração autocrática. Fechar as torneiras do gás, por muito que isso também afete o conforto do centro da Europa, é encerrar o porquinho mealheiro da Rússia. Um bloqueio financeiro "a sério" às reservas de milionários russos, contribuirá para um apodrecimento da entronização silenciosa de Putin. Tudo isto pode a UE fazer. Mas podia fazer mais. Podia colocar militares no terreno, na fronteira polaca ou mesmo dentro do território ocidental Ucraniano, para proteger a saída dos europeus, ou defender corredores humanitários.
Mas a política de reboque Europeia e Norte-americana não se fica por aqui. Os países da Nato deveriam, em concertação com o Governo Ucraniano, reconhecer como mal menor a independência das repúblicas Fantoche do Donbass, alertando para o facto de nunca virem a aceitar uma futura integração destas na federação Russa, mas promovendo de imediato a entrada do restante território Ucraniano na Aliança Atlântica, como foi feito com a Alemanha Ocidental em 1954. Claro que para o orgulhoso povo ucraniano, o reconhecimento oficial da secessão dos territórios orientais, e até da Crimeia, pode ser visto como traição. Mas relembre-se que na Alemanha de 1954 houve também quem acusasse konrad Adeneur de traidor, o que motivou demissões no seu governo e a ira do SPD. Mas menos de 40 anos depois a Alemanha reunificou-se pois regimes autocráticos como o Soviético dos anos 50 ou o Russo destes anos 20 estão sempre a prazo.
Para a Madeira é também motivo de preocupação, se nos lembrarmos que, apenas nos últimos meses, a comunidade Russa aumentou em cerca de 30% e a Ucraniana em igual valor. São emigrantes que, em boa parte das situações, fazem uma emigração de investimento. Esta instabilidade vem colocar novos desafios, ainda mais quando o novo regime dos vistos gold prometia grandes oportunidades de captação de divisas. O mesmo relativamente ao turismo.
Veremos como se vão desenrolar os próximos dias, não deixando de endereçar um voto de solidariedade ao povo Ucraniano, mas também ao Russo. Como cantava Sting "os russos também amam os seus filhos".