Dei por mim a rezar. Porque se pode rezar assim: contemplando. Porque o olhar pode ser um caminho para ligar as peças que a nossa contemporaneidade desarruma, todos os dias. Porque há lugares que nos obrigam a entrar dentro de nós à procura de sentidos, à procura do Sentido que nos segura e nos impede de desistir. E este é um lugar assim. Cada mistério (do Rosário e da Vida) convida o visitante à oração. Não sei se será essa a função principal de uma exposição, mas não me importa. Foi isso que me apeteceu nesta visita: parar e rezar.
São histórias de vidas e de lugares, são histórias de uma História que se faz de gente maior, de gente que se entregou por amor de Deus, de artistas, de gente comum que luta cada dia com a terra e com o mar, de gente como a gente que desfia a vida por entre os dedos, ao ritmo dos mistérios de Deus e dos Homens, ao ritmo daquilo que somos - dia e noite, esperança e desencanto, vida e morte e vida outra vez. Aqui, a simplicidade do terço da Jacinta e/ou do Francisco coabita com o ouro dos terços que os Papas foram deixando; o terço dolorido dos pescadores de Caxinas dialoga com outros, mais ricos, mas, se calhar, não menos sofridos; o saltério - uma instalação belíssima de Ana Bonifácio - toca as cordas do nosso por-dentro e a "Suspensão" de Joana Vasconcelos mostra-nos a dimensão (enorme) da luz deste caminho feito de contas e de mistérios e de dores e de alegrias.
E depois, há as mãos: as que seguram as contas do rosário e, nelas, procuram o mapa para continuar a viver, para descobrir a esperança, para pedir e para agradecer, para encontrar o caminho da paz.
Serve para isto a arte. Para nos aproximar do que faz sentido. Obrigada Marco Daniel Duarte.