Parece moda – ou será feitio? – a vontade extrema que muitos demonstram a tentar arrastar o mensageiro para o tabuleiro partidário.
Se o jornalista escreve a notícia sobre o partido laranja, é porque está a fazer um ‘sumo alaranjado’. Se o conteúdo assinado passa a mensagem rosa, é porque gosta de tons rosados. E se cobre uma ação verde, é porque tem ‘sangue’ verdinho. E assim sucessivamente.
Portanto, a política, na ótica dos próprios protagonistas políticos, já não está apenas circunscrita ao teor das declarações dos adversários. Hoje, a politiquice coloca a questão numa lógica mais profunda, quase maquiavélica, e arrola também o profissional que transmite o assunto. Ou seja, quando (lhes) convém, o mensageiro é o melhor do mundo e arredores. Mas, amanhã, dependendo da matéria, já pode ser o pior. Tudo com o objetivo de desvirtuar o que é dito ou feito.
Há quem classifique esta forma de estar/atuar como um modelo de censura dos tempos atuais. E apesar de poder ser encarada como tal, não vamos tão longe. Porque o ostracismo pessoalizado, praticado vezes sem fim pelos atores do costume, são apenas ossos do ofício. No balanço final, quem está de consciência tranquila não assume o papel de vítima.
A politiquice demagoga também não parece capaz de influenciar a opinião pública. Pelo menos da maioria, que pensa de forma independente, ao invés dos que se comportam como uma caixa de ressonância partidária. Quando muito, esta postura aumenta o ruído e desconfiança em torno de um setor cuja credibilidade está fortemente ameaçada.
Aliás, segundo um estudo recente da Pordata, sobre a evolução das eleições em democracia, 8 em cada 10 residentes em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos. E não se trata somente dos que não cumprem as promessas quando atingem o poder. A mensagem geral não é confiável, garante a amostra, como se percebe pelos elevados níveis de abstenção.
Não quer isto dizer que o jornalismo não careça de melhorias. Que todos cumpram com deontologia a sua função e que a classe seja imune ao erro. Claro que não, até porque as redações são curtas e as exigências, pelo contrário, são cada vez maiores face à importância crescente dos meios digitais. Mas não alinhamos em teorias da conspiração de quem se preocupa somente em inventar cenários e caminhar no campo das hipóteses convenientes.
A política devia, isso sim, acompanhar a vontade do povo, que apesar de continuar a votar maioritariamente nos partidos tradicionais, tem vindo a repartir cada vez mais os votos por outras forças partidárias emergentes, como é reflexo o Parlamento madeirense.
Na Madeira, o tempo do absolutismo social-democrata parece coisa do passado. A população reclama agora maior fiscalização do Governo. Mas não impõe a sua completa paralisação, como entendem muitos dos deputados com assento no hemiciclo. Mas parece que a maior distribuição de votos não contribuiu para elevar o diálogo democrático.
Numa altura em que é unânime a necessidade de Orçamento Regional aos mais diversos níveis, é legítimo tentar perceber as razões pelas quais continua a haver resistência ao diálogo. Até porque foi isso que as eleições determinaram e é essa a premissa na qual está assente o regime democrático.
Mas para definir o melhor para as pessoas, é preciso não perder tempo com demagogias. Vício de que padecem alguns e não é fácil de perder...