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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

13/10/2024 07:30

Em boa hora a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) deu à estampa mais um estudo com a qualidade que a FFMS nos vem habituando. No caso, trata-se de Os jovens em Portugal, hoje. Quem são, que hábitos têm, o que pensam e o que sentem (coord. por Laura Sagnier e Alex Morell), com a intervenção de diversos consultores e analistas da PRM Market Intelligence, coadjuvados por investigadores oriundos do Instituto de Ciências Sociais e do ISCTE.

Segundo é percetível pela abordagem, trata-se de investigação pioneira, pela amplitude da população-alvo que representa (2,2 milhões de jovens entre os 15 e os 34 anos que residem em Portugal), como pela diversidade das temáticas investigadas (os valores e as formas de ser perante a vida, a família de origem, os amigos e a pessoa parceira, a formação, a remuneração auferida, o que pensam em relação a questões como o trabalho, a mobilidade, a maternidade, a política, o meio ambiente, etc.); e, ainda, as metodologias de análise utilizadas, que permitem compreender em profundidade, não só as várias questões que foram colocadas aos jovens no questionário, como também o modo como estas se inter-relacionam, e até inferir respostas a questões caso lhes tivesse sido colocada uma pergunta direta na altura da entrevista.

Entre inúmeras conclusões, e dados relevantes, que se podem extrair e que deveriam merecer, em nosso ver, devida atenção por quem define políticas públicas no setor, destacamos, aqui, a ligação entre o Trabalho e a Educação e o facto das perceções dos jovens inquiridos apontar para que ter um nível de escolaridade mais elevado garante, tanto às mulheres como aos homens, uma melhor posição de partida na grande maioria das áreas da vida. Ainda, em média, quem estuda mais tem maior probabilidade de encontrar emprego, de auferir rendimentos superiores e de obter vínculos contratuais mais estáveis.

Vendo apenas esta perspetiva pelo lado laboral (outras podem sempre ser congeminadas), reflitamos, no entanto, que cada vez mais se constata que o deter mais escolaridade, apesar de dever garantir salários mais elevados, a realidade é que o diferencial tem vindo a diminuir –a propalada aproximação do salário mínimo nacional com os salários médios-, no que diz respeito ao grupo etário dos jovens, é de longe o mais afetado. E não se vislumbram mudanças, até porque as recentes negociações que conduziram ao Acordo Tripartido 2025-2028 (01 de outubro), entre Governo e os parceiros, acaba por vir em linha com aquilo que temos assistido de a valorização estar sempre excessivamente orientada para o salário mínimo.

Compreende-se, pois, o sentimento que se vai ouvindo de que o retorno do investimento dos jovens e das suas famílias na Educação é cada vez menor no nosso país. Talvez, por isso, muitos jovens com formação superior decidem emigrar em busca de melhores condições profissionais.

Como já referimos neste espaço, a existência de salários adequados é uma componente essencial do modelo europeu de economia social de mercado, sendo que a convergência entre os Estados‑membros, neste domínio, deverá contribuir para a promessa de prosperidade partilhada na UE. Mais, move atualmente o espírito das políticas europeias, para o Trabalho, o entendimento de que a garantia dos trabalhadores na UE auferirem salários adequados é essencial para assegurar condições de vida e de trabalho dignas, bem como para construir economias nacionais competitivas e sociedades justas e resilientes, de harmonia com a Agenda 2030.

Num contexto de incerteza económica e financeira, que infelizmente vamos assistindo, urge pensar de forma global na economia em Portugal. Se queremos alinhar Portugal e torná-lo competitivo e moderno, não basta que as alterações no mundo laboral, que se vão propugnando, se limitem a meros impulsos de vocação modernística através do exercício de figuras legais com velhas fórmulas consagradas no Trabalho do passado.

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