No fim de mais uma campanha eleitoral, peço emprestado a Álvaro de Campos o título do poema que introduz este artigo: "o que há em mim é sobretudo cansaço".
Não, não pensem que com isto vou aqui zurzir nos políticos, nas atividades de campanha ou nos partidos. De facto, sinto é profundo cansaço daqueles que nunca saíram do conforto proporcionado pelo sofá ou pela facilidade da crítica escondida atrás dos ecrãs e que passam a vida a injuriar quem ousa dar a cara, quem se atreve a bater-se por um projeto ou por uma ideologia, quem, com lealdade, se mantém ao lado dos seus companheiros, em busca de uma sociedade melhor, com mais riqueza, com maior desenvolvimento, com melhor justiça e equidade. Quem, carregando sonhos e ambições coletivas, acredita que é possível uma cidade com maior coesão social, mais resiliente e sustentável, com oportunidades para todos e onde ninguém fica de fora. Refutam-me: "isso é o que nós queremos". Muito bem! Será verdade, com certeza. Mas a esmagadora maioria faz pouco para que isso aconteça.
Tenho ouvido muitas pessoas criticarem a qualidade política, ética e intelectual de vários candidatos, especialmente em relação àqueles que provêm dos partidos mais pequenos. Já o escrevi: muitos destes partidos estão, de facto, pejados de políticos de inferior qualidade, mal-preparados e sem competência política. São muitos os que querem replicar o Tiririca ou, à nossa dimensão, o Coelho. Todavia, é preciso que se perceba que uma Região com 250 mil habitantes não tem massa crítica para tantos lugares que se apresentam a eleições. Não é fácil encontrar 100, quanto mais 200, 300, 400 políticos de elevada craveira, com vontade e disponibilidade para intervir. O problema, porventura, não estará tanto nos partidos políticos, mas no sistema, que exige e dispõe de tantos lugares. E esta é uma reflexão que, mais tarde ou mais cedo, coletivamente teremos de fazer.
Também estou cansado daqueles que menorizam as eleições e as suas campanhas eleitorais: em democracia, as eleições são a oportunidade dos cidadãos se fazerem ouvir. Assim, ridicularizar o processo eleitoral é revelar desprezo pela democracia. Não podemos nem temos o direito de andar sempre a criticar todos aqueles que dão parte do seu tempo, por vezes escasso, e se entregam à causa pública, emprestando o que de melhor possam ter para o debate de ideias, criando projetos e programas políticos, para benefício de todos. A cobardia e a preguiça são vícios que não se querem na vida pública!
Nestas eleições, são estes os candidatos que temos. Os motivos que levam à indicação de candidatos, por parte das organizações políticas, são díspares, sendo esmagadoramente conjunturais: reconhecimento social; equilíbrio de poderes; interesses e objetivos estruturalmente partidários; identificação em termos ideológicos; submissão aos líderes, etc. São, de facto, muitos, distintos, e nem sempre conciliáveis ou transportáveis de partido para partido, de eleição para eleição. Todavia, há exigências que nós, eleitores, também temos de fazer: se é certo que Ética e Política não se podem confundir, não é menos certo de que não podem estar dissociadas. Qualidades como honestidade, honra, verticalidade, integridade, dignidade, seriedade, respeito são fundamentais à atividade política e ao "homem público". Todos temos defeitos, mas o político tem o dever de combater os seus vícios privados, para que não maculem a sua atividade pública.
Temos de ser criteriosos e exigentes. E se o meu caro leitor crê que algum candidato não é digno, não está habilitado, não revela competência, se o senhor ou a senhora que fazem o favor de me ler, convictamente, se julgar melhor preparado, pois bem, venha a terreno e exponha as suas ideias e os seus projetos.
Dito isto, no próximo domingo, para o Funchal, estou em crer que é tempo de sair desta estagnação e apatia a que a cidade está votada.
Como ter confiança em quem em 8 anos não foi capaz de resolver um único problema da cidade, antes agudizando aqueles que já existiam e que prometeram combater? Como, sequer, ousam falar em confiança? A nossa cidade "querida" é esta que temos? Ou temos o direito a sonhar com mais?
Porque a minha cidade querida é muito mais do que aquilo que nos devolvem, ao abandono a que nos votaram, convictamente sei qual é a resposta. Porque não me resigno e porque a cidade que eu quero para a minha filha, para a sua filha, para as filhas de todos nós e para todos os meus concidadãos funchalenses é mais -, é muito mais! - no dia 26 colocarei, de facto, o Funchal sempre à Frente!