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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

24/03/2024 08:00

Amanheceu nublado na ilha de Lombok, na Indonésia, onde me encontrava. Se calhar um indício do dia que para aí vinha. Ainda ali, naquele lusco-fusco do sono, fez-se luz na minha cabeça. ‘’Oh, as eleições legislativas, tenho de ver os resultados’’. A diferença horária é significativa: são oito horas de diferença, estando eu no ‘futuro’, mas pouco deste futuro legislativo poderia eu imaginar.

Quando comecei a ler as notícias, pelas oito da manhã neste lado do mundo, os últimos votos ainda se contavam, mas o final da novela estava praticamente escrita. ‘’Chega de Ventura com 48 assentos’’. Não posso ter lido bem, ou posso? É o sono a pregar-me partidas? Mas ali estava, em todos os canais noticiosos, o mesmo desfecho.

Não consegui evitar os olhos aguados que me nublaram o ecrã. Não quando 50 anos de Abril estão ao virar da esquina. Não quando tanto ódio prolifera no Mundo. Não levem a mal o desabafo que o meu coração saudoso faz, mas ali, naquele momento a ler as notícias, foi a primeira vez que tive a realização de que, muito provavelmente, não voltarei a viver em Portugal.

Quando deixei o nosso país, em Fevereiro de 2018, foi na condição de que voltava quando o meu estágio de seis meses em Bruxelas terminasse. Seis meses magicamente tornaram-se em seis anos. Mas o objectivo manteve-se: voltarei a Portugal eventualmente. Será?

Entendo. O povo está cansado, os recentes alegados casos de corrupção abalaram a confiança de um povo que já pouca confiança tinha nas lideranças deste país. Este resultado nas eleições legislativas é um basta, um literal Chega na cara dos dois principais partidos. Mas o que significará em termos práticos? E o leitor pode argumentar que é assim que a democracia funciona. E a isso digo, claramente! A democracia é uma das ferramentas mais bonitas de viver em sociedade. Contudo, não esqueçamos que temos na História ditadores que foram democraticamente eleitos. Né?

Pelos vistos a História tende a repetir-se. Tomemos o caso do Estados Unidos e de Donald Trump. A 6 de Janeiro de 2021, os seus apoiantes tomaram o Capitólio de assalto. Há dois dias, Trump - que actualmente concorre à presidência dos EUA - antevê um banho de sangue se perder as eleições. Já não vimos este filme?

Enfim, não quero deixar-lhe com um mau presságio ou um gosto amargo na boca. Como escrevi, é só um desabafo de um coração (preocupado e) saudoso.

Neste lado do globo, já estou na minha Odisseia de dar a volta ao Mundo há dois meses e meio - se se lembrar dos meus últimos artigos, lembrar-se-á que escrevi sobre estar a viajar sozinha durante seis meses pela Ásia. Bem, os planos mudaram e agora serão oito meses, onde passarei pela América do Norte e do Sul também. Há uns dias, numa conversa de grupo, ouvi um Francês que vive em Bali, a dizer que frequentava um bar e todos os dias perguntava ao empregado, como esta a ser o seu dia, ao que ele sempre respondia, sorrindo: “O meu dia está maravilhoso. Viver é muito bom, não posso reclamar.” E no fundo é isso. Viver é muito bom. E é isso que tenho vindo a aprender com esta experiência e com os tailandeses, os indonésios e os filipinos. Estas pessoas são das pessoas mais gratas que já conheci. Mesmo tendo muito pouco, são povos muito gratos por acordarem para viver mais um dia. A mim, ajuda-me a pôr os meus dias em perspectiva. Algo que espero levar comigo quando esta aventura terminar.

Nos dias mais negros, quero lembrar-me destas pessoas, porque viver é muito bom. E só estando vivos é que podemos lutar por um amanhã melhor, em qualquer esfera das nossas vidas.

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