O presidente demissionário do Governo Regional da Madeira, o social-democrata Miguel Albuquerque, recandidata-se ao cargo “determinado”, com confiança e “grande garra”, embora seja arguido numa investigação judicial sobre alegada corrupção e reconheça uma conjuntura de fragmentação política.
“Completamente determinado. Não há problema, não [estou] fragilizado. E, sobretudo, com grande garra para este novo embate”, disse Miguel Filipe Machado de Albuquerque, também líder do PSD/Madeira, numa entrevista à agência Lusa.
Nascido em 04 de maio de 1961 (tem 63 anos), na freguesia de São Pedro, no concelho do Funchal, onde reside, Albuquerque enfatizou que o seu objetivo “é ganhar as eleições e formar governo com estabilidade e com confiança”.
“A ideia, neste momento, é termos o melhor resultado possível e depois formarmos governo. É evidente que a atual conjuntura é fragmentada do ponto de vista político, mas nós vamos tentar alcançar o nosso objetivo”, reforçou.
“Aqueles que querem vir comigo vêm comigo. A maioria dos militantes está empenhada. Já comecei a fazer a ronda, não há nenhum problema”, acrescentou, um mês e meio depois de ter sido reeleito líder do PSD/Madeira.
Num universo de 4.388 votantes, conseguiu em março 2.246 votos, contra os 1.854 de Manuel António Correia, ex-secretário regional da gestão de Alberto João Jardim e apoiado pelo histórico social-democrata.
Albuquerque, advogado de profissão, com uma licenciatura em Direito, dedicou-se desde cedo à política. Foi deputado regional, vice-presidente da Assembleia da Madeira e presidente da Câmara do Funchal durante 19 anos, e chefia o executivo madeirense desde 2015.
Depois de ter feito uma coligação pós-eleitoral com o CDS em 2019 e um acordo de incidência parlamentar com o PAN após as regionais de 2023, devido à falta de maioria absoluta, enfatiza agora a disponibilidade, “se for necessário, para encontrar plataformas de entendimento”.
Considera que “as linhas vermelhas foram uma armadilha engendrada pela esquerda para condicionar o centro-direita” e recusa traçá-las para atingir o seu objetivo, já que “tudo depende da vontade do povo” expressa neste sufrágio de círculo único, “com grandes fragmentação dos votos e sobretudo dos lugares”
“Acho que neste momento não há linhas vermelhas [...]. Não se pode estar a condicionar a vontade do povo ‘a priori’ relativamente àquilo que é o quadro político após umas eleições”, sublinhou, afirmando que pretende “governar num quadro de entendimento”.
Sobre possíveis contestatários à sua liderança, respondeu: “Nunca procurei consensos, nem unanimismos e muito menos falsos unanimismos. Portanto, tudo está em condições para avançarmos para umas eleições tendo em vista o objetivo que é a vitória.”
O candidato alegou que os resultados da sua governação “são substanciais”, mencionando, entre outros, o crescimento económico da região - que vai “atingir os sete mil milhões de euros este ano” -, um nível de desemprego que descreveu como residual, o “clima de investimento”, o crescimento do turismo e das empresas tecnológicas, a paz social, investimentos como a construção do novo hospital da Madeira e outros investimentos em curso de 128 milhões de euros (provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência) no setor da habitação.
Sobre as prioridades num eventual novo mandato, classificou como “decisiva” uma aposta na educação, “com ótimas condições para os professores”. Além da robótica já introduzida nas escolas, a candidatura pretende implementar a inteligência artificial (IA), que “vai ser determinante para o futuro”.
O PSD quer também “continuar a fazer a redução fiscal na Madeira”, o que passa pela revisão da Lei de Finanças Regionais e pela definição de um sistema fiscal próprio, e promete investir no apoio social às famílias mais vulneráveis, promovendo a coesão social e económica, inclusive para “impedir fraturas na sociedade que geram radicalismos e pulverização nas sociedade”.
O PSD governa a Madeira desde as primeiras eleições em democracia e em 11 legislaturas (de 13) fê-lo com maioria absoluta, um quadro que se alterou em 2019, quando se coligou com o CDS-PP, partido que integrou então o executivo e com o qual concorreu nas regionais do ano passado.
Os sociais-democratas apresentam-se no sufrágio de 26 de maio com uma lista própria, depois de rompido o acordo com os democratas-cristãos no decorrer da crise política gerada na região.
Em meados de janeiro, no âmbito de uma investigação judicial relacionada com indícios de corrupção e ainda em curso, Miguel Albuquerque foi constituído arguido. A deputada do PAN, Mónica Freitas, com quem havia celebrado um acordo de incidência parlamentar para assegurar a maioria absoluta na Assembleia Legislativa, retirou o apoio político ao líder madeirense.
Albuquerque acabou por apresentar a demissão e o Governo Regional tem estado desde então em gestão.
O Presidente da República decidiu dissolver o parlamento e marcar eleições antecipadas, medidas que tinham sido defendidas pela oposição no arquipélago.