D. Nuno Brás, bispo do Funchal, considera que o futuro da Europa passa por um reforço da “inclusão” e pelo projeto comunitário, com a promoção da paz e o respeito pela vida humana.
“Não é votando contra a União, numa atitude de destruição da União, que encontramos um ponto de saída. É precisamente ao contrário, numa atitude de construção da União Europeia, de integração e de comunidade, desta comunidade de Estados, que nós precisamos de apontar para o futuro”, refere o vice-presidente da Comissão dos Episcopados Católicos da UE (COMECE), em entrevista conjunta à ECCLESIA e Renascença, a propósito da celebração do Dia da Europa (9 de maio).
A poucas semanas das eleições europeias (9 de junho, em Portugal), o responsável católico destaca que a União “não pode ser simplesmente um clube daqueles que já estão integrados”, mas é chamada a ser “uma comunidade inclusiva de todos os países europeus que nela queiram participar”.
O bispo do Funchal lamenta uma ação “às vezes intrusiva” das instituições comunitárias, que levam a “uma certa confusão entre aquilo que poderiam ser os Estados Unidos da Europa e aquilo que é a Comunidade Europeia, tal como foi pensada e tal como é”.
“Não se trata, absolutamente, dos Estados Unidos da Europa”, insiste.
D. Nuno Brás fala, em particular, da defesa da vida como “um todo”, mostrando-se crítico da decisão de “colocar o aborto como um direito fundamental e, portanto, obrigar todos os países, indiscriminadamente, a adotar essa legislação”.
Para o vice-presidente da COMECE, essa é uma situação que pode colocar em risco o projeto comunitário, por considerar que se está perante “uma usurpação da própria ideia de Europa”.
O entrevistado considera que um alargamento da União Europeia “traz consigo, necessariamente, garantias de paz”, advertindo que, se a Ucrânia “cair”, na guerra contra a Rússia, “obviamente vão seguir-se outros” países.
O bispo do Funchal sublinha que, neste cenário, qualquer tentativa de “implosão da União Europeia seria uma desgraça para todos, para o mundo inteiro”.
“Aquilo que queremos é melhorar a União Europeia. E isso parece-me ser um dos critérios muito importantes na escolha e na eleição do próximo dia 9 de junho”, aponta.
Para o responsável católico, é preciso discernir que forças políticas estão “disponíveis para construir um projeto europeu que não seja, simplesmente, economicista, mas seja um projeto humano e um projeto de comunidade de Estados”.
O vice-presidente da COMECE admite que “todos temem” um crescimento de discursos racistas e xenófobos, entendendo que “a Europa precisava de crescer, e de crescer muito mais, em termos de acolhimento dos que a procuram”.
“Claramente precisamos de uma Europa que defenda a vida, de uma Europa que defenda a possibilidade de todos viverem com a dignidade que lhe é própria. Os europeus e aqueles que, não sendo europeus, chegam e batem à nossa porta para que os acolhamos”, acrescenta.
Num ciclo eleitoral “muito intenso”, o responsável católico sublinha a necessidade de sensibilizar os cidadãos para a importância das eleições europeias, evitando assim elevados níveis de abstenção.