O compositor português Daniel Davis vai apresentar em Londres na quinta-feira uma nova obra musical onde aborda questões políticas e sociais como a evolução tecnológica, o isolamento de idosos e os protestos ambientalistas.
A peça, intitulada “The Cloud” (“A Nuvem”), foi escrita para para um barítono e quarteto de cordas, e é o resultado de dois anos e meio de trabalho na capital britânica, onde vive e trabalha.
“Queria fazer uma obra original com um texto original que tocasse em temas atuais e fiz uma colaboração com o escritor inglês Aubrey Lavender”, contou à agência Lusa.
A narrativa destaca temas políticos sociais contemporâneos através de duas histórias que se sobrepõem, com a evolução tecnológica no centro.
Uma das histórias é sobre um idoso solitário de direita, que fica inadvertidamente colado ao palco ao tentar remover manifestantes de um evento onde está o seu filho, executivo de uma empresa petrolífera.
O idoso, surpreendido com a atenção que o seu “protesto” atrai, decide juntar-se ao movimento ambientalista ‘Just Stop Oil’.
A outra história é sobre um príncipe que se prepara para a sua coroação, durante a qual a polícia decidiu usar tecnologia revolucionária de reconhecimento facial para identificar potenciais transgressores para evitar que a cerimónia seja perturbada.
Apesar de estar insatisfeito com o uso da tecnologia, o príncipe é pressionado a não interferir mas, a meio da história, uma falha no sistema troca os ficheiros do príncipe e do idoso na base de dados.
“Escolhi abordar o avanço extremamente rápido da tecnologia como o tema central da minha obra porque é algo que está a transformar profundamente a nossa sociedade. Vivemos numa era em que as inovações tecnológicas ocorrem a um ritmo vertiginoso, e as suas implicações tanto nos desafiam como nos fascinam”, explicou Davis.
“Ao mesmo tempo, toco superficialmente nos temas do isolamento dos idosos e nos protestos ambientalistas porque, embora não sejam o foco principal, fazem parte das dinâmicas sociais contemporâneas que também são impactadas pela tecnologia”, acrescentou.
O barítono Jonathan Eyers e o Sonnen Quartert vão interpretar a peça, que será apresentada na Torre do Relógio da estação de Saint Pancras, em Londres, para marcar o seu lançamento em formato digital.
O espaço, parte de um apartamento privado de luxo, tem uma capacidade limitada, mas o português disponibilizou bilhetes para venda na própria página de Internet [https://www.danieldaviscomposer.com/].
“É um sítio lindíssimo. A apresentação dura cerca de uma hora, pelo que estou à espera que o relógio dê as badaladas das 21:00 quando acabar. Seria mágico se acontecesse”, afirmou o compositor.
No futuro próximo, espera fazer a estreia em Portugal com a Orquestra Clássica da Madeira, ilha onde nasceu, e depois levar a obra a outros locais de Portugal.
Nascido em 1990, cresceu em Santa Cruz, mas foi no Funchal que iniciou a formação musical ao aprender a tocar saxofone.
“Fiquei interessado por composição a partir do segundo ano e quando acabei o Conservatório, em vez de fazer provas de saxofone, decidi fazer provas de composição e entrei na Escola Superior de Música de Lisboa”, contou.
Após completar a licenciatura e mestrado, em 2016 mudou-se para Londres para frequentar um doutoramento na Guildhall School of Music and Drama, que concluiu em 2020.
Em 2014, foi galardoado com o Prémio do Concurso de Composição Sociedade Portuguesa de Autores/Antena 2 e, em 2019, com o 1.º Prémio de Composição Acordeão, também em Portugal.
Na temporada 2019-20, foi selecionado para o programa Jovens Compositores (Young Composers) da Orquestra Filarmónica de Londres e colaborou com a Orquestra Sinfónica da capital britânica.