O centro cultural grego em Londres inaugura hoje exposições de duas artistas, Rena Papaspyrou e Maria Loizidou, com curadoria da portuguesa Inês Costa, que lamenta a omissão de que sofrem algumas artistas femininas da Europa do Sul.
Apesar de ter 86 anos e ser reconhecida na Grécia, esta é a primeira vez que Rena Papaspyrou expõe no Reino Unido, apesar de a sua obra já ter sido exposta noutros países europeus, Estados Unidos, Brasil ou China.
“Tenho interesse por artistas ignoradas na história de arte”, afirmou Inês Costa à Agência Lusa.
Nascida em 1938, em Atenas, Papaspyrou é considerada uma das mais importantes artistas gregas do pós-guerra.
Inspirada pela arquitetura do bairro onde nasceu e cresceu, Rena Papaspyrou produz peças artísticas com materiais recolhidos na cidade, como pedaços de metal, latas e outros objetos.
Nesta exposição de cerca de 20 obras representativas de cinco décadas de trabalho, destaca-se uma peça realizada durante a pandemia covid-19 a partir de uma parede de uma casa devoluta cuja pintura removeu aos poucos ao longo de vários meses e colou num painel.
“Todos os dias tinha de telefonar a pedir autorização para sair. Outras pessoas iam fazer exercício ou passear o cão, eu ia a esta casa”, contou hoje à Lusa.
Inês Costa explicou que a artista começou a fazer este tipo de intervenções de “descolar” paredes nos anos 1970.
“As pessoas não acreditavam que ela ‘tirava’ as paredes das casas, então criou uma performance e convidou audiência a ver ela fazer estas intervenções”, recordou, a propósito de um conjunto de fotografias incluídas na exposição.
A curadora refere que o artista norte-americano Gordon Matta-Clark, contemporâneo de Papaspyrou, ficou conhecido na mesma época por também fazer trabalhos com base na arquitetura e nas paredes, enquanto a grega se manteve anónima.
“Tenho algum interesse em histórias mais escondidas da história de arte, talvez porque sou portuguesa e há imensas mulheres artistas portuguesas ou do hemisfério sul no geral que fizeram coisas muito interessantes, como a Rena, mas nunca tiveram a mesma exposição que os homens tiveram”, afirmou à Lusa.
Nayia Yiakoumaki, diretora do Centro Helénico [Hellenic Centre], que promove também a cultura cipriota, espera que a exposição projete o trabalho de Rena Papaspyrou no Reino Unido.
Numa outra sala do Centro estreia-se hoje uma instalação sonora da artista cipriota Maria Loizidou, igualmente curada por Inês Costa.
A obra aborda temas como a identidade, a pertença e a experiência dos imigrantes, inspirada na vida de Sigmund Freud.
No Reino Unido desde 2013, Inês Costa é atualmente curadora na Focal Point Gallery em Southend-on-Sea.