O governo etíope, que pretende iniciar rapidamente negociações para um cessar-fogo com as autoridades rebeldes na província de Tigray, acusou hoje aquelas de evasivas para esconder a sua recusa em negociar a paz.
Em conflito armado desde novembro de 2020, o governo federal e os rebeldes da Frente Popular de Libertação Tigray (TPLF, na sigla em inglês) afirmaram há semanas estarem prontos para negociar mas as duas partes divergem em várias questões.
O governo "continua a apelar a uma resolução pacífica neste momento, embora não haja o menor sinal de interesse pela paz por parte da TPLF", disse à imprensa a porta-voz Billene Seyoum do primeiro-ministro, Abiy Ahmed.
"Se a TPLF genuinamente se preocupa com o bem-estar dos etíopes na região de Tigray, ... devem-se sentar para negociar em vez de dar desculpas para evitar a paz", vincou.
"A questão de restabelecer os serviços [em Tigray] surge repetidamente, como se houvesse um botão liga/desliga centralizado", denunciou.
Enquanto o governo federal recusa qualquer pré-condição para negociações, os rebeldes exigem primeiro a restauração de serviços essenciais (eletricidade, telecomunicações, bancos e comércio), de que a província - do qual recuperaram o controlo da maior parte do território em 2021 - está privada há mais de um ano.
Na quarta-feira, o comité governamental encarregado das futuras negociações propôs "a realização de consultas de paz nas próximas semanas com vista a um cessar-fogo mutuamente aceite", explicou hoje Billene Seyoum, denunciando "ameaças" e "contínua agressividade" dos rebeldes.
"O que estamos a dizer é que o povo de Tigray, os das regiões vizinhas de Amhara e Afar, não podem mais se dar ao luxo de outro conflito, então esse compromisso com um cessar-fogo deve vir imediatamente", acrescentou a porta-voz.
Billene Seyoum assegurou que a restauração dos serviços essenciais em Tigray não foi condicionada pelo acordo de cessar-fogo: "São duas questões distintas".
"Para que os serviços essenciais sejam retomados, dizemos que um ambiente propício deve ser criado que mantenha os provedores de serviços federais seguros e permita que eles trabalhem livremente", acrescentou.
"No momento, com um grupo armado ilegal verbalmente agressivo a agir por capricho e recusando-se a concordar com as negociações de paz, falta o necessário ambiente de apoio e segurança", reforçou a porta-voz, considerando que "um simples pedaço de papel (...) não dá realmente as garantias necessárias", referindo-se a uma carta dos rebeldes recentemente entregue a diplomatas em que garante a segurança de quem vier restabelecer os serviços na província.
LUSA