Marta Temido considerou hoje que a “situação de desconfiança” em torno do caso das gémeas luso-brasileiras poderia ter sido evitada se o processo tivesse “sido conduzido de outra maneira” e assumiu responsabilidade pela sua ex-equipa governamental.
Ouvida esta tarde na comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas com o medicamento Zolgensma, a antiga ministra da Saúde frisou que não acredita que os “fins justifiquem os meios em qualquer circunstância”, depois de questionada pelo deputado António Rodrigues, do PSD, sobre o pedido de marcação de consulta para as crianças.
Quando confrontada pelo deputado do Chega, André Ventura, com um documento do Infarmed assinado pela neuropediatra Teresa Moreno - de acesso confidencial - que serve de suporte à requisição do medicamento e que, leu Marta Temido, diz que a “primeira consulta foi solicitada pelo secretário de Estado” da Saúde, António Lacerda Sales, a antiga ministra dividiu os tipos de responsabilidade neste caso em clínica e política.
“Havia dois tipos de responsabilidade. A responsabilidade clínica de levar as meninas a uma consulta que me parece que é do médico. A responsabilidade política de quem a possa ter indevidamente solicitado não será seguramente do médico (...) será de quem a solicitou, alegadamente do secretário de Estado”, explicou.
Temido voltou a dizer que “as crianças não passaram à frente de ninguém” e que não foi à comissão parlamentar de inquérito, que durou mais de uma hora e meia, para “dar opiniões” e que assume a sua “cota de responsabilidade”.
“Eu assumo a minha cota de responsabilidade por tudo como sempre assumi. Agora, o que eu não posso é ter responsabilidade de uma coisa que eu não conheci, que eu não controlei. Tenho uma responsabilidade política? Tenho”, realçou.
Interrogada pelo líder do Chega, André Ventura, sobre podia ter feito alguma coisa para modificar o rumo dos acontecimentos se soubesse, a antiga ministra da Saúde disse que “talvez sim”, acrescentando que “mais do que isso” não podia dizer.
“Todos nós somos responsáveis por nós e pelas nossas equipas. Só uma pessoa que não tivesse um conjunto de princípios que eu penso que eu tenho é que se distanciaria de uma leitura desse tipo e se colocaria fora de uma autoavaliação que me leva a concluir nos seguintes modos”, ressalvou a atual eurodeputada do PS.
Depois de ter sido questionada pelo deputado do PSD António Rodrigues sobre não querer falar mais sobre o assunto com Lacerda Sales, a ex-governante salientou que “é um processo ao qual as pessoas não passam com indiferença”.
“A melhor forma, até haver conclusões, sobre o que se passou é mantermos alguma distância entre nós, (...) para não gerar outras interpretações”, afirmou.