As adições são um problema sério da humanidade e usurpam sistemas de sobrevivência biológicos, para desativarem os sistemas avançados que a evolução trouxe à espécie humana. É curioso tanta procura por estratégias para desligar o cérebro racional, quando ele é o santo Graal da nossa existência.
Grande parte da indústria alimentar dedicou-se ao longo de décadas a tornar alimentos na sua versão processada e aditiva, pois essa é chave para criar uma boa quota de mercado. A dependência. Atualmente existem evidências que a indústria do açúcar usou de vários meios para focar a saúde nas gorduras e no colesterol, de forma a afastar o reconhecimento da gravidade dos açúcares refinados na saúde. Tantos produtos alimentares contêm aditivos destinados apenas a aumentar o desejo do consumo.
Mas quem melhor utilizou as nossas fragilidades para benefício próprio foram as redes sociais. A televisão mostrou o caminho, mas foram as redes sociais nos smartphones ganharam o troféu no aumento da distração e emburrecimento. Já existiam estudos que a observação prolongada de televisão diminuía a densidade neuronal. Mas foi desde a utilização maciça da última década dos smartphones que conseguimos atingir o grande milagre da geração seguinte ser menos inteligente do que a anterior. Com a criação de tanta tecnologia, a humanidade manteve-se década após década a melhorar em termos cognitivos, mas esta tendência suspendeu-se com a invenção das redes sociais em conjunto com os smartphones. O problema tornou-se tão grave e provavelmente alvo de processos legais, que a maior parte dos fabricantes começou a criar os sistemas de monitorização de uso, para poderem avisar os utilizadores da utilização prolongada. Mesmo a mudança do feed do instagram® para dizer que já acabaram as atualizações de hoje, serve como informativo subliminar para chamar a atenção que se calhar já viu demasiado.
A fuga inevitável da nossa vida diária tornou-se demasiado fácil e prolongada. Mas nem isso é suficiente para diminuir a utilização de substâncias aditivas, legais e ilegais. Elas induzem estados emocionais e estados de consciência que quem as usa acha que não consegue criar de outra forma. A verdade é que todos esses estados estão disponíveis para os utilizarmos, porque nenhuma substância cria algo de novo no nosso cérebro, só ativam o que já existe. “Eu só consigo desinibir-me com álcool e por isso tenho de beber nas festas para me divertir”. Claramente isto é uma falácia. Todo o potencial de descontração e socialização está na pessoa. Não acreditam? Leiam os estudos em que as pessoas pensavam que estavam a beber álcool, mas afinal era tudo sem álcool, mas passado o tempo habitual, começaram a sentir-se alcoolizadas. É fascinante o poder das crenças.
As outras substâncias criam estados mais intensos e diferentes, mas não trazem nada de novo ao nosso cérebro, que ele não consiga atingir sem elas. O mundo das ilusões em que vivemos, é a nossa maior prisão. E a ilusão da fuga através das substâncias, a maior ilusão de todas. Em vez de resolvermos a nossa vida, permitimos que a distração da ilusão nos faça sentir num conto de fadas, onde tudo se resolverá com o abanar de uma varinha. Mas a ilusão momentânea vem carregada de consequências negativas para o futuro da pessoa, incluindo o agravamento dos problemas da sua vida, conjugados com uma maior incapacidade para os resolver.