É fácil demonizar, por isso, o imigrante, culpado de invadir um espaço que não lhe pertence. Sem entrar em argumentos sobre o facto de que a Europa sempre foi multi e intercultural - realidade que muitos, ignorantes da história, consideram ideologia de esquerda -, atente-se no interesse que diversos países estão a dar à imigração, reconhecendo a sua absoluta necessidade. Uma necessidade que os está a obrigar a mecanismos de captação de trabalhadores migrantes que possam ajudar na recuperação económica pós-pandemia.
A Suíça, por exemplo, divulgou há dias atrás que se encontra a enfrentar escassez de pessoal em muitos setores, considerando que a recuperação e as difíceis condições de trabalho em alguns setores como a hotelaria, a restauração e a saúde têm vindo a contribuir para as dificuldades de recrutamento. Por isso, começa a pensar em aligeirar as regras para candidatos não europeus, abrindo caminho não só a empregados qualificados, como a mão-de-obra que deve ser formada e para cumprir necessidades de funções menos atrativos para os locais. O governo português já foi na mesma direção, tendo aprovado em setembro um decreto que permite aos cidadãos da CPLP o deferimento liminar, ou imediato, dos pedidos de visto e não terem de apresentar presencialmente o requerimento para a sua obtenção.
Em abril, estive em Mangualde e os responsáveis pela Câmara explicaram-me que enfrentam uma crise de escassez de trabalho no setor do cultivo dos mirtilos. Com as empresas, apostaram na imigração e trouxeram trabalhadores de vários países, assegurando alojamento, protegendo os trabalhadores, oferecendo contratos legais, apoio, aulas de português e instrumentos de inclusão social.
Não seria difícil à Madeira ter também um Gabinete de Captação de Migrantes, evitando o trabalho ilegal e a imigração clandestina, acompanhando-os no sentido de serem tratados decorosamente, aumentando também, assim, o seu potencial produtivo. Isto porque os imigrantes já se encontram a trabalhar entre nós, nos hotéis, na construção, na restauração. Infelizmente, por vezes são tratados como humanidade de segunda, como aconteceu com os estudantes da Escola Hoteleira vindos de São Tomé, obrigados a aceitar condições que consideram negativas, como se devessem estar satisfeitos com a esmola de os deixarmos estar ali e ter a imensa oportunidade de trabalhar ao fim-de-semana das 7 da manhã às 22, chamando-lhes "aulas práticas", e que deviam acontecer, segundo o acordo, às quintas e sextas, sem alimentação e alojamentos dignos.
O relatório do BCG, desenvolvido em colaboração com a Organização Internacional para Migração, informa que a migração gere atualmente uma produção económica anual de cerca de 9 triliões de dólares e que esse número pode dobrar até 2050. O documento destaca mais de 20 ações em três estratégias principais que as empresas podem implantar para empregar, elevar e acolher os migrantes no local de trabalho. Esta força, que a extrema-direita quando chegar ao poder pretende travar, é absolutamente essencial e os empresários sabem-no.
Não é que esses políticos também não o saibam. Sabem também que a maior parte do eleitorado não quer saber, por isso, sabe menos do que eles e acredita no que lhe dizem. E isto numa terra de emigrantes que foram e são imigrantes noutras terras, acolhidos por outros.