Maio tem uma luz mais limpa. Não sei se são as flores, se é a primavera a querer ser verão, se é o sol, feliz, a ver-se no espelho do mar, só sei que a luz de maio é diferente. Mais branca, talvez. Mais clara.
Confesso que é um dos meus meses. Porque de festa. Porque de mãe. Porque de Nossa Senhora. Porque de memória. Maio reúne a brancura e a inocência do que somos, ou que éramos, no princípio de nós.
Escrevo, então sobre o branco, sem discutir se é cor ou não, se reúne em si todas as cores ou não. Penso na ideia de branco e associo-o aos tempos duros que vivemos. E imagino bandeiras a anunciar a paz. E imagino os miúdos desses lugares que a guerra quer matar, de sorrisos brancos de luz a repovoar os jardins cinzentos que já não são cinzentos na imagem que desenho na minha cabeça. E vejo, de novo, as casas pintadas de branco, com as janelas abertas para que o sol as aqueça, uma vez mais. E vejo as mães com braçadas de flores brancas a inaugurar tempos de paz. E os homens regressados das guerras insanas a ensinar os filhos a lição de liberdade dos papagaios brancos que fazem voar.
Em maio, penso paz. Talvez seja a imagem da Senhora que é de Fátima e é de mim ou a brancura dos vestidos das primeiras-comunhões que acontecem por todo o lado. Talvez seja a inocência (lembro-me da minha) das crianças que, de mãos postas, ainda acreditam num mundo que seja a soma de todas as cores (branco, portanto) e não faça aceção de pessoas. Talvez seja a lembrança de tantos momentos brancos que a nossa vida tem e que, com o tempo, vão ficando sepultados sob o medo, sob os gritos, sobre as noites dos dias. Talvez seja a vontade de acreditar na bondade dos homens, na doçura de Deus, nos sorrisos e na serenidade.
E abro uma folha nova, branca, num caderno novo, para me lembrar das palavras que não quero (não posso) deixar esquecer: esperança, esperança, esperança.
Maio tem uma luz diferente. É mais branco. Guarda em si todas as cores do mundo.