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Artigo de Opinião

Psiquiatra

22/02/2023 08:00

A linguagem verbal é a que mais rapidamente reconhecemos. Palavras e frases permitem-nos transmitir conceitos abstratos e concretos. Para. Perigo. Deus. Adeus. Quatro simples palavras que mudam não só o nosso estado de alerta, como também nos trazem emoções e pensamentos metafísicos. Da mesma forma, podemos transmitir estes conceitos sem palavras, mas eles estão ligados à nossa linguagem interna e traduzimos símbolos e gestos em palavras.

A forma da linguagem entendemos como o conjunto de características diretamente ligadas à linguagem verbal, mas que não são o seu conteúdo. Na comunicação verbal temos o tom do discurso, o volume, a variabilidade de entoações, a musicalidade, a aspereza, a suavidade e tantas outras características. Na comunicação escrita temos o design gráfico (tamanho da letra, cor, desenho, espaçamento, variação das características ao longo do texto), o suporte (tipo de material, estado do material, ...). A linguagem não-verbal representa o conjunto de alterações musculares, de movimentos, maiores ou menores, que incluem alterações da nossa mímica facial e movimentos do resto do corpo.

O nosso cérebro gasta imensos recursos a processar a forma do discurso e a linguagem não verbal. Ao longo da evolução tornou-se claro que ao dizermos uma coisa, não acreditamos necessariamente nela. Escondemos significados, escondemos verdades e desejos, por detrás da parte não verbal da comunicação. E tal como o fazemos aos outros, fazemos a nós próprios. Ao escondermos dos outros o que sentimos e o que acreditamos, acabamos por esconder de nós próprios.

Desta forma começam muitos problemas psicológicos, quando guardamos, escondemos, transformamos o que sentimos e acreditamos. Fazemos por diferentes razões, umas mais nobres (para não magoar os outros) e outras menos nobres (para adquirir alguma vantagem ou evitar consequências). Qual é o impacto destas alterações na nossa saúde? Ao criarmos uma camada diferente daquela que é a real, passamos a ser mais personagens de uma história, do que pessoas. As emoções complicam-se e ficamos presos às personagens que criamos. O sofrimento escondido, transforma-se em sintomas e em alguns casos ficamos a sofrer, sem saber porquê. Explodimos, sem saber porquê. Adoecemos, sem consciência.

Este é um dos grandes problemas da sociedade no geral e por inerência, também dos profissionais de saúde. Por mais cursos de comunicação, na prática tudo depende do estado do ser humano que está presente. Enquanto não tivermos condições adequadas de trabalho (físicas, emocionais, remuneração, reconhecimento, ...), enquanto não trabalharmos no mais elevado respeito para com utentes e colegas, vamos continuar a traçar um rumo à degradação geral do sistema. O Ministro da Saúde, médico, disse: "Há qualquer coisa de estranho, quando em plenas negociações se opta pela greve em vez de optar pela continuação do diálogo". Palavras na forma de uma ameaça velada. O que é que as pessoas podem fazer para defender o que acreditam? Greve. Mas se fizerem, não estão a respeitar as negociações. Ou querem dizer que as negociações não são reais? Palavras.

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