Em 2016, quando a Madeira ardia, o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, decidiu igualmente copiar a façanha, vestiu o colete da proteção civil e foi "combater" os incêndios ao lado dos bombeiros, justificando que o vereador da proteção civil estava ausente. Apareceu sozinho frente às câmaras e acabou o protagonista do momento. Foi cómico e trágico assistir ao braço de ferro entre Miguel Albuquerque e Paulo Cafôfo a ver qual é que saía melhor na fotografia "a apagar fogos".
Vimos no caso dos incêndios em Santa Cruz, em 2012, o quanto lucrou politicamente, na altura, o Movimento Juntos Pelo Povo através das verbas disponibilizadas pelo CDS "solidário". Andava José Manuel Rodrigues e os verdinhos de Gaula, de braços dados, distribuindo frigoríficos e máquinas de lavar pela população que havia perdido os seus pertences. Belos tempos, não é verdade? Mas a realidade é que desgraça que se abateu sobre o concelho, acabou por catapultar o JPP à vitória da Câmara de Santa Cruz.
Tamanha "sorte" já não teve Pedro Calado na Câmara do Funchal com a depressão Óscar que assolou a Região, recentemente. Também tinha preparado um grande teatro de operações, rodeada de múltiplos monitores com imagens de videovigilância da cidade (quem leu o livro 1984 de George Orwell até ficou de cabelos em pé). A coisa mais parecia uma reunião no Pentágono. Mas foi mais o alarido que a chuva. Parece que ainda não é desta, que vai consagrar-se como substituto de Miguel Albuquerque. Calado vai ter de esperar mais um pouco. O secretário regional de Equipamentos e Infraestruturas, Pedro Fino, também fez questão de não comparecer à Assembleia Legislativa da Madeira porque precisava de estar, no terreno, a acompanhar as ocorrências de camisa e mangas arregaçadas. Para adicionar drama à fotografia fizeram questão de ser "apanhados", à chuva, a dar ordens e a apontar para o infinito. Não fosse alguém desconfiar da veracidade do momento.
Circunstâncias que tinham tudo para ser o fim de qualquer governante, com a estratégia certa, transformam-se numa grande oportunidade. Em Portugal, o conhecido Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, também ficou para a história graças ao grande terramoto de 1755 em Lisboa, que devastou a cidade quase toda. Foi quem reconstruiu a cidade, tomando medidas imediatas e inovadoras que ficaram imortalizadas na famosa baixa pombalina. A propaganda também não faltou, com a sua legendária e pragmática frase, até hoje recordada nos livros de história: "Agora enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos". O incidente valeu-lhe o cargo de primeiro-ministro, conde de Oeiras e marquês de Pombal. Por isso existe o famoso ditado popular: "a desgraça de uns é a sorte de outros".
A "passerelle" da desgraça veio para ficar, porque mesmo passado tantos anos parece que ainda não nos livramos do mito do sebastianismo, da necessidade de escolher um salvador, um cavaleiro andante que nos salve do mal e da desgraça, nem que seja de faz de conta.