Ora, o grande problema, é que em Portugal, até agora, além do anúncio de um fabuloso cheque de 125 euros vindo do lado de lá, pouco ou nada se viu. Aliás, quando a matéria é crise económica e ao leme do país está um partido socialista deslumbrado e muito aleado da realidade, andamos a passo de caracol.
E a questão ganha ainda mais dimensão, quando diariamente assistimos a um débito quase patológico de parangonas na comunicação social a ver se a coisa passa ao lado do comum mortal. Em vez de existir uma verdadeira persistência em criar medidas concretas que tenham um impacto real e positivo na vida das pessoas, assistimos a uma série de novelas governativas, entre avanços e recuos do senhor primeiro-ministro (muitas vezes atrapalhado) que tenta emendar as asneiras dos seus ministros.
É difícil ficar indiferente quando o ministro da educação diz aos professores em jeito de aviso que "é escusado empatar tempo com negociações sobre recuperação do tempo de serviço congelado durante a troika" e logo depois compromete-se a não haver mais congelamentos. Mais tarde, quando questionado sobre a desigualdade em relação aos docentes das ilhas dos Açores e da Madeira, que conseguiram recuperar de forma faseada todo o tempo de serviço, João Costa explicou que o salário mensal é pago pelos orçamentos regionais, mas "a pensão é paga pelo Orçamento do Estado do Governo da República", numa estratégia de tentar emendar as suas próprias declarações, esquecendo a sabedoria popular que nos diz "palavra fora da boca é pedra fora da mão".
Nestes últimos dias, também ficámos a saber que o recém-nomeado ministro da Saúde, também já está envolto em polémica, uma vez que ainda é o sócio-gerente de uma consultora na área da saúde com o seu nome. Quando questionado, afirmou que a empresa não tem atividade desde 2020 e está a ser dissolvida. Como se não bastasse o imenso imbróglio da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde, nomeada e decidida por uma ministra em fim de linha, eis que surge mais um obstáculo à verdadeira reforma que o SNS necessita de forma urgente, para bem comum dos portugueses.
E o verdadeiro problema desta direção executiva, cujo decreto-lei que a oficializa foi publicado a 23 de setembro em Diário da República, é que cria mais uma figura de instituto público de regime especial na área da saúde. Este novo organismo governativo terá a responsabilidade de coordenar a resposta assistencial das unidades de saúde do SNS, assegurando o seu funcionamento em rede, a melhoria contínua do acesso a cuidados de saúde, a participação dos utentes e o alinhamento da governação clínica e de saúde. Este organismo vai ser dirigido por um diretor executivo, Fernando Araújo (até agora presidente do Centro Hospitalar Universitário de São João) que vai dirigir a sua ação a partir do Porto, num órgão diretivo de representação e de mais elevada responsabilidade de gestão do SNS. basicamente, irá esvaziar a ação do ministério da saúde, a quem caberá apenas validar as decisões desta direção executiva.
E enquanto o senhor ministro da saúde continua na sua agenda mediática, a proferir verdades de la palice, afirmando que os profissionais de saúde nunca serão suficientes, os portugueses continuam a assistir angustiados à degradação lenta e progressiva do seu Serviço Nacional de Saúde.
Haja coragem para agir em prol da saúde dos portugueses!