Afinal, o conceito de paz não está na vontade livre de bem-querer e respeitar, intimamente ligado à liberdade de agir, à procura do bem comum, salvaguardando as diferenças, sem sobranceria, perturbação ou agitação?
Afinal a Paz não é um estado de alma inerente a um ser que se diz racional, pensante, criador?
Quem olhe a história ficará na dúvida se o humano é beligerante ou pacífico por natureza. Bastará recordar as lutas tribais, as guerras por fronteiras, por territórios, por religiões ou por recursos…
Será a Paz uma construção moderna, a que se dão novos contornos?
Poderá chamar-se Paz ao equilíbrio
entre forças, não necessariamente opostas, um bluff permanente como num jogo de póquer, onde o jogador exibe confiança e regozijo, de que os parceiros desconfiam?
Poderá chamar-se Paz à dependência do armamento que se armazena ou se anuncia para ser dissuasor?
Poderá chamar-se Paz à permanente ameaça, onde o medo habita, e as palavras são bombas que se manuseiam com cautela e parcimónia, para não estoirar?
Será Paz um exercício de supremacia balofa e sigilosa, para manter distâncias e domínios, ou condutas reprováveis?
Que raio de mundo é este que faz depender a paz da guerra?
Que mundo é este que reserva milhões à sua destruição?
Nas mãos duns poucos assenta a possibilidade dum gesto que apaga num sopro um planeta que se foi e se vai construindo.
Será que poderemos ter algum orgulho em nos dizermos humanos?
Será que poderemos sentir paz no nosso peregrinar?
Será que poderemos ter sonhos e desenhar projetos, com a constante ameaça duma decisão reduzi-los a cinzas?
Será que a minha paz reside na força que eu aparente, um fingimento persistente, onde não há espaço para a autenticidade de ser o que se quer ou pura e simplesmente se é?
Claro que sou pelo desarmamento total.
Mas de todos os Países, potências, blocos e pessoas.
Não me atirem as tretas de serem contra uns, admitindo que outros se armem até os dentes e iniciem a progressão da conquista, saciando a sua ânsia de reconstrução de imperialismos e domínio fanático.
Que dizer daqueles que andaram anos a alimentar e apaparicar o monstro e agora tentam encurralá-lo em sanções? Esperavam o quê?
Não há guerras santas ou legítimas ou justificáveis.
Todo o ato de matar é indigno dum ser pensante ou racional.
Ninguém é senhor da vida do outro!
Fazer a guerra é a negação da racionalidade, da inteligência, é o assassinato da liberdade, é o desprezo pela vida, a vilania da força sobre a razão.
É a destruição de séculos, o apagamento da história e das civilizações.
No extremo, a guerra conduzirá à «limpeza» do planeta, com risco de passar a ser terra queimada e nada mais…
A FORÇA DA PALAVRA
Foi surgindo em cada dia, com precisão, motivador, demonstrando a força de resistir e conduzir a coragem dum povo.
A comunicação é arma da inteligência, é a cativação dos ouvintes, quando o discurso tem autenticidade, é genuíno e flui da emoção.
Recebido nos mais diversos palcos e plateias, tornou-se a voz dum povo martirizado, a quem rasuram sonhos e planos, e retiram a subsistência.
A sua resiliência e humildade arrebatam a unanimidade das assembleias.
A Palavra é a força da razão.
COMEMORAÇÃO
Iniciaram-se as comemorações da libertação.
Os que a viveram recordarão o alívio, a despressurização, a alegria do grito com que saudaram novos ventos que surgiam.
Quem já recebeu um País em liberdade deve conhecer a história que antecedeu «abril», para que não volte a acontecer a sua falta, seja em que circunstância for.