Desde já, peço que me perdoem os agentes imobiliários que primam pela excelência no seu trabalho, que compreendem o seu papel na mediação imobiliária e que procuram ampliar os seus conhecimentos acerca dos imóveis que comercializam, contudo, diria que, na Madeira, a cultura imobiliária é fraca, talvez até mesmo imatura. Os agentes imobiliários oscilam entre "exibidores de casas" e "líderes de equipas de consultores".
Segundo fontes oficiais, na região, o setor imobiliário em 2022 representou um volume de negócios na ordem dos 841ME destronando o turismo que atingiu 528ME naquele que foi um dos melhores anos para esta indústria.
Lamentavelmente, a realidade atual do mercado imobiliário na Madeira equipara-se a uma autêntica selva onde muitos agentes não possuem as competências necessárias para desempenhar as suas funções adequadamente. Na verdade, é bastante comum encontrar agentes que não compreendem sequer o que estão a vender, não possuem noções de construção, de legislação, de instrumentos de gestão territorial ou de urbanismo, apenas querem garantir a venda para obter a comissão.
Muitas vezes vendem-se prédios com condicionantes (ora sem capacidade construtiva, ora com grandes patologias construtivas, ora classificados ou em zonas de risco) completamente inconscientes daquilo que estas condicionantes de facto significam para um potencial comprador e investidor.
A escassez de conhecimentos em construção significa que, os agentes imobiliários, não conseguem identificar problemas estruturais ou outras patologias nos imóveis que estão a vender. Com frequência, os anúncios que publicam são repletos de palavras como "maravilhoso", "fantástico" e "excelente", que não acrescentam qualquer valor real e apenas servem para sobrevalorizar imóveis que muitas vezes estão repletos de patologias construtivas, muitas delas de difícil resolução. Por outro lado, assiste-se à venda de edifícios e apartamentos com ótimas soluções construtivas da autoria de alguns dos melhores arquitetos que já passaram por esta região e que acabam completamente subvertidas num completo desconhecimento do valor patrimonial inerente a estes imóveis. Há essencialmente uma escassez de cultura arquitetónica.
Os agentes imobiliários desempenham um papel de extrema importância no setor, embora muitas vezes isso passe despercebido. Atuam como os catalisadores do mercado, os facilitadores dos compradores e os estrategas dos vendedores. São eles que, num primeiro momento, impulsionam a dinâmica do mercado imobiliário. Acabam também eles por serem responsáveis, num primeiro momento, pela correta transmissão a um investidor das melhores características que os imóveis possam ter.
No entanto, torna-se cada vez mais necessário que as avaliações aos imóveis sejam mais completas e que procurem ir mais além de uma simples média de valor por m2 relacionada com a localização. Estas devem ter em consideração, além das características arquitetónicas, o estado de conservação, as patologias construtivas, e os acessos, como fatores preponderantes no enquadramento do imóvel no mercado. Estas avaliações têm que assumir uma base científica, que permita de forma clara e transparente explicar de que forma os pontos positivos e negativos afetam os valores de mercado.
É necessária mais transparência e mais responsabilidade nestes processos, de qualquer das partes envolvidas, de quem vende, de quem compra e de quem medeia. Não pode valer tudo para obter a comissão.