Todos os dias temos conhecimento, através dos media, de fenómenos meteorológicos extremos com consequências devastadoras aos mais variados níveis. Também na Região Autónoma da Madeira (RAM) esses fenómenos começam a ser cada vez mais frequentes e com intensidades maiores, pois "no tempo ninguém manda". Já demostrei, com dados estatísticos, num artigo de opinião neste matutino, que, não obstante a RAM possuir registos meteorológicos ininterruptamente desde 1865 (dados recolhidos e disponibilizados pelo atual Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA), nos últimos anos e principalmente na última década bateu-se todos os recordes a este nível.
O mês passado veio provar isso mesmo, e veio provar que os fenómenos meteorológicos extremos podem surgir com maior frequência do que sequer imaginávamos. Senão vejamos, no dia 5 de junho a RAM esteve sob um alerta meteorológico vermelho emitido pelo IPMA para precipitação intensa. Nesse dia foi batido o recorde de máximo de precipitação em 24 horas, tendo chovido mais de 600 mm em 24 horas na estação do Pico do Areeiro. Passados 22 dias novo alerta meteorológico, também vermelho, mas agora para calor intenso. Em 27 de junho na estação meteorológica da Quinta Grande bateu-se o recorde da temperatura máxima mais elevada alguma vez registada na RAM 39,1°C.
Em apenas 22 dias dois alertas vermelhos para parâmetros meteorológicos muitos distintos e recordes obtidos nesses mesmos parâmetros.
A previsibilidade do "estado do tempo" alterou-se e mesmo algumas das constatações e ditados dos mais idosos e sabedores destas "questões do tempo" vão sendo falíveis.
Perante estes fenómenos é importante que todos os cidadãos tenham noção que temos de alterar hábitos e comportamentos, quer durante os alertas emitidos quer mesmo ao longo do nosso dia a dia. Os incêndios e o aumento do risco de incêndio é um dos exemplos mais visíveis das alterações climáticas.
Assim sendo, a utilização do fogo em espaço florestal tem de ser cada vez mais responsável e apenas poderá acontecer nos locais apropriados para o efeito. As queimadas e fogueiras em terrenos estão proibidas na RAM de 1 de abril a 31 de outubro pelo que não há espaço a exceções. Não há espaço com as condições meteorológicas verificadas para comportamentos negligentes, e devem ser seguidas todas as recomendações das autoridades.
No que se refere aos alertas das autoridades, estes são para levar a sério. Não podemos utilizar o fogo da mesma forma quando condições meteorológicas extremas estão presentes. Há que perceber que temos responsabilidades nos nossos atos, e perceber que atitudes que possam perigar a floresta são puníveis legal e judicialmente. Felizmente estas premissas estão cada vez mais presentes nos madeirenses como verificamos no último alerta vermelho.
No que se refere ao espaço florestal, à floresta e a biodiversidade, matérias diretamente sob a alçada do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN) tem sido realizado um trabalho continuo de prevenção destas áreas, através de trabalhos de limpeza, florestação e recuperação de habitats, complementados sempre com uma vigilância permanente destas áreas e com um reforço de meios quer materiais quer humanos.
Relembro que ao nível das alterações climáticas a floresta e os espaços florestais bem geridos, desempenham um papel importante e decisivo na mitigação e prevenção dos impactos dos eventos climáticos extremos, pelo que todos os trabalhos realizados pelo IFCN nesta área contribuem para esse objetivo.
Não obstante todo este trabalho já realizado, cada cidadão tem um papel importante no combate às alterações climáticas, tomando consciência do contexto atual e tomando no seu quotidiano atitudes responsáveis e consentâneas com essa realidade.
E nunca é de mais relembrar que no que respeita à Floresta "uma Floresta Segura depende de todos nós".