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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

19/05/2021 08:00

Bruxelas está em burburinho desde que, há duas semanas, se soube que a Comissão Europeia planeia tornar público o pacote ‘Fit for 55’ dentro de dois meses. O ‘Fit for 55’ é um pacote crucial de leis climáticas e energéticas, sendo que o "55" refere-se ao objectivo de 55% de redução líquida de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2030, que os líderes da União Europeia (UE) assinaram no ano passado (anteriormente o objectivo era de reduzir 40% das emissões de GEE).

Este pacote afectará diversas indústrias e consequentemente empresas e cidadãos. Os transportes, incluindo o transporte marítimo e aéreo internacional, geraram 27,2% das emissões de GEE da Europa em 2018. O que é certo é que há uma grande discussão à volta da electrificação do transporte. Mas porquê ignorar outras tecnologias que já estão disponíveis e que também podem contribuir para a ambição climática da UE?

Todos compreendemos que a electrificação tornar-se-á numa tecnologia dominante para os veículos ligeiros. Mas o desenvolvimento e crescimento desta tecnologia não tem de significar o fim do motor de combustão interna (MCI).

Banir o MCI é a discussão errada. O problema não está no carro, está no combustível que se usa. A descarbonização dos transportes tem fundamentalmente a ver com a descarbonização da energia, e um MCI alimentado com combustíveis mais sustentáveis (os chamados combustíveis líquidos de baixo carbono) tem uma pegada de carbono comparável à de um veículo eléctrico (VE).

Os combustíveis líquidos de baixo carbono são sustentáveis pois as matérias-primas utilizadas são as culturas açucareiras, culturas de amido, óleos vegetais sustentáveis, resíduos agrícolas e florestais, etc. Estes têm emissões de CO2 nulas ou muito limitadas, durante a sua produção e utilização, em comparação com os combustíveis fósseis. À medida que entram no mercado, eles permitirão descarbonizar progressivamente toda a frota automóvel em circulação, tanto veículos existentes – como o Renault de 1992 – ou novos.

Uma política que só promova a electrificação tem outras lacunas críticas a ter em conta. É provável que resulte, por exemplo, numa parte significativa dos cidadãos europeus ser socialmente deixada para trás durante a transição energética, tornando a mobilidade sustentável algo fora do seu alcance. De facto, milhões de cidadãos e empresas da UE, especialmente em muitos países da Europa Central, Leste e do Sul com frotas de veículos tipicamente mais antigas, dependem para o transporte familiar, laboral ou de pequenas empresas de veículos mais antigos, baratos e frequentemente comprados em segunda mão. Estes veículos, que podem ser adquiridos a uma fracção do custo de um eléctrico, são vitais para estes cidadãos europeus. Para os que têm pouco poder de compra, ou aqueles que procuram ser mais sustentáveis, sem se desfazer do seu carro. Como o meu padrasto.

Além do mais, electrificação não será possível num futuro próximo para o transporte marítimo e de aviação. Estes continuarão a depender de combustíveis líquidos. É aqui que os combustíveis líquidos sustentáveis entram como uma alternativa viável.

Não existe uma solução milagrosa nem uma única tecnologia capaz de enfrentar o desafio de descarbonizar todo o setor de transporte, mas o passo certo a tomar é tirar proveito de todas as tecnologias disponíveis e dar-lhes as mesmas hipóteses de desenvolvimento. Ganha o cidadão, que terá mais opções de escolha, e ganha o clima.

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