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Artigo de Opinião

Médico-Dentista

31/03/2024 07:40

“Nada temas, porque Eu estou contigo;não te angusties, porque Eu sou o teu Deus. Eu fortaleço-te e auxilio-te; e amparo-te com a minha mão direita e vitoriosa”. Mais, “porque Eu, o Senhor, teu Deus, tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’”. Isaías 41, 10 e 13. Neste caso foi Isaías, o profeta, a proferir tais palavras. Sim, o mesmo que foi enviado por Deus para revelar, ao povo infiel e pecador, a fidelidade e a salvação do Senhor. Mas podia muito bem ter sido, por exemplo, pelo cardeal Rui Abreu... Ou pelo bispo Higino Teles! Eu explico.

No dia 20 de março foi notícia, a nível nacional, a detenção de dois jovens portugueses na Indonésia. A mesma tinha acontecido uns dias antes e devia-se a tráfico de droga. Até aqui nada de anormal. Afinal de contas, e infelizmente, isso já quase não é notícia. São números! Estatísticas. Ou o que lhes quiserem chamar. Deixaram, portanto, de ter rosto.

Porém, neste caso, a coisa foi diferente. Não sei se por nos termos esquecido que o cidadão madeirense anda por todo o lado, parecemos surpreendidos por um dos detidos ser nascido e criado na Madeira. Como meio pequeno que é, e dotados de bilhardeiros ímpares, não foi difícil chegar à identidade do jovem errante.

Dizia-se que era filho de um pai. Que estava desempregado. Que era um antigo futebolista (acabou a carreira aos 20, o que faz de mim também um antigo craque embora eu tenha posto um ponto final ali pelos 11/12). Que tinha uma namorada grávida. Que tinha entrado em pânico. Que tinha 2 créditos malparados. Que achou que podia fazer o “biscate” uma única vez. Eu sei lá... De repente, um tal de Rui, era capa de jornais pelos piores motivos.

Como sempre, houve gente que se comoveu, gente que se revoltou e gente que se marimbou para o caso mediático. Os primeiros, desdobraram-se em pedidos. Um antigo professor pedia que não desistissem: “lutem por ele”. Já um amigo defendia que “o Rui merece uma oportunidade”. E eu concordo. Todos merecemos. Sou daqueles que acredita que, à semelhança do ditado propagado pelo Papa, “não há santo sem passado nem pecador sem futuro”. Juro. Aposto que todos temos algo de que não nos orgulhamos de ter feito e não é por isso que devemos ser eternamente rotulados de más pessoas. No entanto, também sou defensor de que as atitudes são opcionais, mas as consequências não! Ou seja: depois de errar e pagar pelo erro, a vida continua. Podem chamar-me do que quiserem, mas não acho boa ideia seguir-se em frente, depois de se tropeçar, sem termos sido novamente “ensinados” a andar direito.

Talvez por isso me aflija ver gente com alguma notoriedade, como são os casos do presidente do Câmara de Lobos e ex-deputado da ALM a apelar à intervenção urgente do Estado português neste caso. Nunca vi semelhante intervenção para alguns outros seus conterrâneos que estão na Cancela. Há xavelhas de 1.ª?!

Ou no caso do Director Regional das Comunidades e Cooperação Externa que encetou contactos junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros a solicitar que o Presidente da República fizesse um pedido de clemência. Mas e então os estrangeiros que são apanhados por cá? Parece-lhe bem que lhes ponhamos a mão em cima com compaixão?

Pior só mesmo o ministro conselheiro da embaixada da Indonésia em Lisboa... Uma vez que “não existem relações em termos de extradições, é impossível resolver o caso cá”, mas a “solução pode passar pelos canais diplomáticos ou por outros actores, como Cristiano Ronaldo”. “Porque não?”, perguntou o senhor. Enfim...

Será que estes intérpretes todos não pensam na mensagem que estão a passar? Não corremos o risco dos nossos filhos crescerem a achar que não há diferença entre o certo e o errado? Que, porventura, a pena a cumprir pelos erros é facultativa? Ou querer-se-á levar à despenalização de tão graves crimes? Tenham juízo!

Podem dizer, em sua defesa, que por lá as penas são pesadas. É um facto. Mas quem faz a mala, não sabe para onde vai?

Atenção que não estou com isto a defender que o miúdo merece a pena de morte? Longe disso. Do contacto que tive e do que conheço não me parece um “vasilha torta”. E prova disso é que o miúdo não estava à vontade no novo trabalho. Consta que só foi apanhado porque os agentes da alfândega do Aeroporto de Soekarno-Hatta, desconfiaram do seu comportamento. “Parecia hesitante e, por várias vezes, parou de andar enquanto fazia chamadas telefónicas ao entrar na zona de inspeção”. “Tremia quando estava prestes a colocar os seus objetos na máquina de raios-x”. E não era para menos... Como ia, um careca, justificar tanto champô?!

Seja o que Deus quiser...

Ps, quem foi desta para melhor foi Mário Pardo. Não, não se meteu por caminhos apertados. Morreu mesmo! O que é estranho, diga-se. É que um fulano que se joga da Ponte 25 de abril, do Padrão dos Descobrimentos ou do Cabo Girão dava ideia de ser imortal. Só que não. Morreu de dengue. Se o mosquito era pequeno? Provavelmente era. Mas, pelos vistos, não gostava de concorrência... Até sempre campeão.

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