Desde 2019 que PS e o CHEGA têm uma abordagem simbiótica na sua prática e política, que os tem claramente beneficiado. É indiscutível que o CHEGA cresceu com base nos ataques, muitas vezes Teatrais, extemporâneos, de Ferro Rodrigues, Santos Silva, e outros lacaios que protegiam António Costa de tal figura, mas que ajudavam o partido de André Ventura a ocupar mediaticamente o lugar que, natural e regimentalmente, pertence ao PSD.
De um para 12 deputados, e finalmente 50. Se esta manobra, mais ou menos velada, teve o condão desequilibrar a balança da reta política para a direita, a verdade é que serviu de tampão ao crescimento do PSD.
Mas também o PS foi beneficiário daquilo que poderemos chamar de acordo não assinado. Provavelmente nem combinado. Apenas óbvio para pessoas inteligentes. Foi devido à ameaça do CHEGA, e de uma suposta coligação com o PSD, que um PS já totalmente esfrangalhado, em derrapagem de casos e casinhos, com a guerra de delfins em marcha, com demonstrações sucessivas de incompetência, e com o compadrio instituído e simbolizado na figura máxima, de inspiração africana, do “melhor amigo do primeiro-ministro”, que os socialistas conseguiram uma inusitada e surpreendente maioria absoluta em 2022.
Chegamos ao momento em que a direita democrática é a mais votada. Por pouco, devido a todas as razões acima descritas, e mais algumas.
Depois de semanas a mendigar um lugar no governo, e a demonizar o socialismo, eis que chega o momento do partido extrema-direita aliar-se ao “demónio socialista”. Primeiro na eleição para Presidente da Assembleia da República, depois na distribuição pelos escalões da redução do IRS, seguidamente na isenção de um conjunto de ex-scut com portagens, prosseguindo na redução do IRS para as rendas, num calendário que seguirá até ao desgaste máximo do governo, e ao aumento do número de compromissos que os tornem insustentáveis orçamentalmente. Professores, polícias, oficiais de justiça, verão sair-lhes um jackpot, que no fim pagarão com juros, tal como todos os restantes portugueses. Que o CHEGA prometa e aprove medidas sem ter em conta o impacto das contas públicas, não admira. É um partido que pratica a demagogia no seu estado mais básico.
Que o PS proponha medidas que rejeitou nos últimos 8 anos em que esteve no governo, é lamentável, pois é um partido de alternância governativa... mas é a política! Que priorize essas medidas porque sabe que vai ter a aprovação do CHEGA, contrariando um discurso de exclusão do partido de Ventura, já constitui um cinismo regimental que alimenta a degradação do sistema, e evidencia a crise de valores e de ética política.
Não recorramos a eufemismos. Há uma aliança, tácita ou não, entre PS e Chega.
De resto, ainda na legislatura anterior, o Chega apoiou muitas medidas assistencialistas, assim como defendeu a injeção de capitais ( i.e dinheiro dos nossos impostos) em empresas públicas de que o maior exemplo é a TAP, o aumento do salário mínimo para valores que os pequenos empresários não poderão pagar, em completa iniquidade com o salário médio, e a taxação dos lucros das pequenas e medias empresas. Por vezes a “ direita” de Ventura assemelha-se à de Paulo Futre: só servia para subir o primeiro degrau do autocarro, antes de ganhar o Porsche amarelo.
Na Madeira, e com eleições à porta, a perspectiva é muito semelhante. Claro que PS e CHEGA nunca farão uma coligação, ou mesmo um acordo às claras. Mas o pacto de não agressão é óbvio. A vontade de transformar as nossas instituições num caos de ingovernabilidade, é absolutamente evidente.
O Chega diz aquilo que Cafôfo não quer, nem pode, dizer, até por ser suspeito há anos num processo de alegada corrupção, enquanto o PS poupa o Chega e faz promessas a pataco, resolvendo habitação, saúde, aumentando a cana do açúcar, a Banana, e quiçá descobrindo diamantes na Eira do Serrado, tudo anotado naqueles “roles” das vendas antigas em que era pago quando Deus quisesse. Esperem sentados.
A geringonça do Chega, a Cheringonça, como já lhe chamaram, quer medrar no jogo de sombras. Mas o povo não se deixará enganar.