Os lugares parecem ficar mais pequenos com o passar do tempo, como se a nossa memória não os tivesse conseguido guardar totalmente e os projetasse agora diminuídos, cheios de uma ausência que é também a nossa de um outro tempo.
Falta tanto aos lugares do passado. Faltam pessoas, alguns bichos, um tempo que era necessariamente mais lento, estações que tinham outras cores.
O regresso faz-se, por isso, sempre em dissonância, sempre com novas geografias, novas dimensões.
A casa onde se cresceu diminui sempre. Uma subtração que é feita do que falta, do que já foi vivido e não regressa, dos que, entretanto, já não estão e são apenas memória e saudade.
Naturalmente, saímos desse lugar inicial e vamos passando por outros com o mesmo destino.
Os lugares também têm o seu tempo e quando os deixamos procuram novos donos, novas vidas.
O regresso é, por isso, sempre a constatação de que falta algo e de que nós próprios, apesar de regressados, também já lá não estamos por inteiro.
Somos uma coisa do tempo. Habitamos mais o tempo do que o espaço e é essa natureza temporal que já não deixa que os lugares nos sejam devolvidos como antes os tínhamos conhecido e aprendido.
O que passa não são os nossos lugares, mas sim o nosso tempo dentro deles. É essa estação temporal que não podemos replicar ou fazer regressar com a sua intensidade e com a forma que tinha quando era certa e tinha a mesma dimensão do nosso corpo e da forma como ele se ajustava aos dias.
É impossível regressar incólume e totalmente, porque já não cabemos naturalmente no outro tempo dos lugares. O tempo agiu sobre nós e sobre o espaço, e o tempo novo já não é o mesmo, nem nós podemos ser iguais dentro dele.
As casas que vamos deixando para trás aspiram a nossa ausência para dentro dos lugares, alteram as coordenadas, alteram as medidas, mudam a incidência da luz. Já nada está como deixamos. Sobretudo já não estamos nos lugares da mesma forma. Somos criaturas do tempo e o tempo altera-nos de forma irreversível.
É sempre do tempo que podemos falar. Somos do tempo. Do tempo que precisamos para nascer. Do tempo que precisamos para crescer, para aprender, para cabermos nas muitas peles de uma vida, para ajustarmos o coração à alegria e à tristeza sempre renovadas.
Pelo caminho, temos a ilusão de que os lugares mudam, mas, na verdade, é o tempo que altera, que impõe o seu inevitável devir, a sua constante força contra a nossa idade. Podemos regressar no espaço, mas jamais podemos regressar no tempo, regressar a um tempo que foi outro.
Só habitamos o espaço no nosso tempo. Fora dele, todos os lugares nos são estrangeiros.