É o chamado ‘Turismo Espacial’, consequência da corrida espacial bilionária - e eu que pensava que o objectivo colectivo atual era salvar este planeta. O aumento do turismo espacial está a criar um precedente perigoso e a sua expansão terá grandes impactos no ambiente. E não sou eu que o digo. Há já vários estudos publicados e todos têm a mesma conclusão: o crescimento da indústria do turismo espacial poderá alimentar um aquecimento global significativo, ao mesmo tempo que esgotará a camada protectora de ozono que é crucial para sustentar a vida na Terra.
O carbono negro libertado pelos foguetes para a atmosfera constitui a maior ameaça ambiental. Este vem da queima de combustíveis fósseis ou biomassa. Em altitudes mais baixas cai rapidamente do céu, permanecendo na atmosfera apenas durante uns dias. No entanto, quando os foguetes explodem no espaço, emitem carbono negro para a estratosfera onde permanece absorvendo a luz solar e irradiando calor, durante até quatro anos antes de cair à Terra. O carbono negro emitido na estratosfera é quase 500 vezes pior para o clima.
Mas não são só os bilionários no espaço o problema. Os bilionários na terra também têm a sua quota parte de culpa. Kylie Jenner, uma das maiores celebridades norte-americanas, pegou no seu jacto privado recentemente para fazer uma viagem de 17 minutos. É estimado que a viagem resultou numa tonelada de emissões de dióxido de carbono, que é cerca de um quarto da pegada anual de carbono de uma pessoa (não bilionária, obviamente). Algo que teria demorado 40 minutos de carro por muito menos emissões. E ela não a única celebridade que faz mini-passeios de jacto como se de um passeio de domingo se tratasse.
Enquanto há pessoas a morrer e a perder tudo em inundações nunca antes vistas (como é o caso mais recente do Paquistão), e outras a padecer em ondas de calor nunca antes sentidas (como é exemplo este último verão europeu), temos bilionários a brincar aos jactos, jatinhos e foguetões.
Mas quem é que paga a fatura ambiental? É você. Sou eu. São os cidadãos que não são milionários e que têm de levar com a campanha de sermos mais amigos do ambiente (que concordo), enquanto outros fazem mais danos ao planeta em dois meses do que eu faria a minha vida toda.
Tinha a esperança que, depois do Covid-19, teriamos evoluído enquanto espécie, que estariamos mais conscientes da emergência ambiental, cientes que temos de lutar por um planeta que está numa rota que dificilmente terá retorno. Mas enquanto o exemplo não vier dos que mais têm, como podem exigir mudanças dos que já suam sangue e lágrimas para sobreviver? "Quando a última árvore estiver cortada, quando o último rio estiver poluído, quando o último peixe for pescado, eles vão entender que dinheiro não se come".