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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

21/07/2023 08:00

O homem sonha ter um filho para fazer dele um craque de futebol. Na sequência de imagens, acompanhamos o crescimento da menina, esforçando-se numa carreira futebolística, enquanto desespera por um sinal de apoio do pai. Ele não lhe dispensa um olhar, porque continua preso ao desejo de ter o tal campeão da bola, feito que não crê estar ao alcance de uma rapariga. Um dia, por fim, descobre que enquanto ele deambulou no sonho, ela já lho cumpriu. O objetivo do anunciante é sublinhar a mensagem de que uma menina pode ser tudo, mesmo o que tradicionalmente se esperaria de um rapaz, pelo que vale a pena investir na sua formação.

O anúncio incomoda-me, desde logo, por trazer subjacente a ideia de um filho ser, ou sentir-se compelido a cumprir os projetos de vida delineados pelos progenitores. Algo que amiúde se evidencia, por vezes de forma gritante, nos concursos de talentos infantis. Aos pais, caberá orientar, apoiar, sugerir, mas nunca impor ou determinar.

Voltando ao propósito central do anúncio, temos a afirmação de que ser mulher não é limitativo, o que sempre foi verdade, mas que a história, a ciência, a cultura, ou o desporto se esforçaram por calar, apoiados em preceitos educativos e em ideologias políticas e religiosas que minimizam as capacidades das mulheres. Um injusto silenciar de metade da humanidade, porque muitas foram as estudiosas e criadoras em várias disciplinas, não obstante o seu nome ter de ser preterido para que figurasse o de um colega, marido ou outro familiar, apenas por ser homem. Para elas, a sociedade concedia a tribuna da sombra, por detrás do grande homem, que tantas vezes nem o era. O papel reservado ao mundo feminino era o de domésticas, educadoras e cuidadoras de filhos e idosos, funções fundamentais para a sustentação e equilíbrio da sociedade, mas sempre vistos como menores e, consequentemente, falhos de valorização social e económica.

Quanto mudámos? Sabemos que as meninas podem assumir qualquer cargo, e para isso se esfoçam as nossas jovens, apostando na sua formação e lutando para singrar em paridade com os colegas. Um dia, contudo, deparam-se com o dilema: abdicar da maternidade, tentá-la em fase tardia, com todos os riscos inerentes, ou aceitar conviver com a exaustão para conseguirem equilibrar exigências familiares com o sedimentar de uma carreira. As mulheres estão cada vez mais em todas as áreas laborais, o que é excelente. Falta-nos, porém, desenvolver mais estratégias para que o período da maternidade não as penalize, em termos profissionais, sociais e económicos.

Continuamos a menosprezar a maternidade, enquanto defendemos a vinda de migrantes que possam contribuir com as suas proles para o equilíbrio do défice de nascimentos de mães portuguesas. Que futuro restará a Portugal? O que privilegiarão transmitir aos filhos as mães estrangeiras (isto se por aqui permanecerem): a cultura e códigos de conduta do seu país de origem, ou a deste que as acolheu e que pouco cuida da sua integração? Imagino que as invada a nostalgia da sua proveniência e se mantenham fiéis a ela, mesmo que isso implique enganar e desconsiderar a lei portuguesa.

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