MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Investigadora

11/08/2024 07:30

Agosto entrou com sol, calor, um mar com ondas e gente, muita gente. Já vos tinha dito que o areal é um lugar privilegiado no que à observação do comportamento humano diz respeito, mas eu devo ter um íman qualquer pois são poucas as vezes em que consigo ficar sossegada, no meu canto, sem ser importunada. Por entre famílias numerosas que montam tendas com várias assoalhadas, ligam a coluna de som com playlists altamente duvidosas e estendem as toalhas o mais perto possível dos outros veraneantes, há também os pseudo-craques de futebol que, como muitos, fazem do areal um campo de futebol, incomodando os que vêm para a praia à procura de descanso e paz. Porém, e nestes últimos dias, tem surgido um outro grupo algo “sui generis”: miúdas de todos os feitios e tamanhos, vindas directamente da discoteca que se estendem no areal, vestidas e calçadas e que desatam a chorar porque o “seu mais que tudo” pediu um tempo ou terminou a relação. Chega a ser enternecedor. Haverá algo mais intenso e inesquecível que um amor de verão?

Mas mudemos de assunto. Não posso deixar de fazer uma referência à festa de encerramento do ano lectivo da Escola do Campo de Baixo onde pude testemunhar o afecto e a ligação entre alunos e professores, sobretudo dos finalistas que, sem conter as lágrimas e os soluços, se despediram da professora, da escola e dos colegas cantando e dançando, mas de coração partido. Outro momento especial que tive o privilégio de assistir foi o festival de patinagem em que as nossas meninas – Júlia, Rute, Inês, Maria e Carla deram o ar da sua graça e emocionaram os pais, os avós, as tias e os tios, as madrinhas e até esta tia emprestada que ficou muito orgulhosa. Só um aparte: eu também pratiquei patinagem noutros tempos.

E porque estou a falar de momentos especiais, deixem-me confessar a alegria que senti ao fazer uma visita guiada por esta maravilhosa ilha à namorada do meu filho mais velho, polaca de nascença. Foi bonito poder guiá-la pelos recantos e encantos deste pequeno torrão, contando histórias, desvendando alguns mistérios e partilhando memórias. Ah e já me esquecia de mencionar os sabores, já que ela teve oportunidade de provar algumas iguarias e de repente só se ouvia dizer – The best in the world! The best in the world! Referia-se ao pão de casa da Sara e às capelas, às chamuças do Girassol e ao hamburger vegetariano do Helio’s. Pela boca morre o peixe, lá diz o ditado. Neste caso, pela boca se apanha o peixe. O Porto Santo ganhou mais uma fã incondicional e é isso que importa.

A Bela, amiga de longa data com quem partilhei os verões mais belos da minha vida, é uma mulher dócil, de uma ingenuidade pueril, mas muito sábia. Conhece a terra (refiro-me aos grãos mesmo), as plantas e frequentemente somos surpreendidos com este saber que vem não se sabe de onde. Há dias e enquanto esperávamos por uma sandes de polvo, saiu disparada e foi buscar chorão da praia – uma planta suculenta que cresce em cima da duna que deu a provar depois de a abrir convenientemente. Perante a nossa evidente perplexidade, explicou com grande naturalidade:

- Era o meu lanche quando era pequena.

A verdadeira sabedoria é assim: simples e genuína, tal como a vida dos venturosos. Uma coisa é certa. O calor parece que veio para ficar e as tardes longas convidam aos convívios e às patuscadas com familiares e amigos. Não me canso de sublinhar o privilégio que é viver neste chão tostado onde os dias se estendem mornos e vagarosos. E depois há o dourado – essa cor mágica, da terra, da areia, dos caracóis agarrados a um ramo quase petrificado, do bago de uva, dos telhados de salão, das eiras escondidas por entre o matagal, das ruínas de um moinho, outrora vigoroso, das noras paradas à espera de vento. Sim, esse dourado, uma espécie de voz secreta que fala ao coração dos afortunados. Diz o poeta José António Gonçalves, que “para falar de uma ilha não há um nome único”. Assim é. Aqui, neste altar de sal, sol e do sopro do vento, repouso as minhas asas. Aqui.

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