Incapaz de encontrar argumentos e substância que permitam ao PS-M se constituir com alternativa credível aos governos do PSD-M, o seu líder espiritual, Paulo Cafôfo, decidiu pegar nesta estatística para fazer demagogia barata, no estilo que o carateriza, de escrever muito e não dizer nada de substancial, aproveitando o espaço concedido por um dos matutinos regionais.
A atividade política do PS-M passa, pelos vistos, por encontrar um número menos positivo, a cada 30 ou 40 que as autoridades estatísticas publicam, para aparecer nos jornais, sem sequer fazer um esforço para conhecer, interpretar e contextualizar o indicador.
Ora, em primeiro lugar, não há país ou região do Mundo, por mais desenvolvida que seja, que não tenha a determinada altura, indicadores que sejam menos positivos. Se assim não for, é de desconfiar, e não se tratarão certamente de democracias como as que conhecemos no Ocidente.
Diga-se que a abundância crescente de informação estatística disponível para a RAM, que a DREM tem, desde 2015, proporcionado à sociedade madeirense, é também um legado da Renovação Social-Democrata, dando condições à autoridade estatística regional para atuar com isenção e independência, como acontece em toda a União Europeia, que impõe um código de conduta exigente a este género de organismos. Aliás, há uma total transparência da ação governativa, que é consubstanciada por presenças regulares no Parlamento Regional, desaproveitadas por uma oposição débil e sem argumentos no confronto político.
Com esta linha de ação, o Governo Regional fortalece e enobrece a nossa democracia.
Mas recentremos a discussão. Onde falha a outrora considerada figura providencial do PS-Madeira?
Há vários "pormaiores" que Paulo Cafofo se esqueceu. Primeiro, nem toda a gente entrega IRS, há muitos que não o fazem e que ficam fora destas estatísticas.
Para ultrapassar esta lacuna, temos a informação do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado todos os anos pelo INE e pela DREM, e que embora seja de natureza amostral, é representativo de toda a população.
Segundo a nota de divulgação da DREM de 17 de dezembro último: "O coeficiente de Gini sintetiza num único valor a assimetria da distribuição de rendimentos, assumindo valores entre 0 (quando todos os indivíduos têm igual rendimento) e 100 (quando a totalidade do rendimento está concentrada num único indivíduo). No que respeita à RAM, em 2020, este indicador assumiu o valor de 31,1%, abaixo do valor nacional (33,0%). Face a 2019, o aumento na RAM foi de 0,3 p.p.. e a nível do país de 1,8 p.p. A região Centro é a região do país com maior desigualdade (33,3%) e o Alentejo a região onde se observa menor assimetria (30,8%).
O rácio S80/S20 (…) atingiu em 2020 o valor de 5,1 (5,0 em 2019). A nível nacional, registou-se também um aumento, passando de 5,0 em 2019 para 5,7 em 2020."
Sem dúvida, esclarecedor. Isto não invalida que se possam produzir indicadores a partir das declarações do IRS, mas é evidente que as conclusões retiradas com base no ICOR, para o mesmo ano de 2020, são mais robustas e mais abrangentes algo que Paulo Cafôfo parece desconhecer. Por Ignorância ou desonestidade intelectual?
Evidentemente, apesar de estarmos melhor que o País, a questão da desigualdade deve continuar a merecer a atenção dos nossos governantes, no sentido de ambicionarmos a ser a região menos desigual de Portugal. É esta a mentalidade vencedora do PSD-M e dos seus governos.
Ao PS-M restam duas opções: continuar a acompanhar as estatísticas do INE e da DREM à espera da próxima migalha, ou seja, de apanhar um qualquer indicador pela rama para mostrar a sua impreparação técnica para lidar com números ou então pedir ao INE ou à DREM uma formação de literacia estatística a ver se passam a debitar menos asneiras. Se nem os números sabem interpretar, como querem ser governo?